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Machado de Assis é de graça, Jeferson Tenório e outros “negros” são business
| Foto: Wikimedia Commons

Esta semana, rodou pelo zap-zap um vídeo denunciando a obra do escritor Jeferson Tenório por causa do conteúdo sexual explícito. Segundo a denúncia, repetida acriticamente por outros veículos de direita, isso seria mais uma prova irrefutável de que a esquerda quer acabar com a família, a inocência das crianças etc. Em resumo, tudo culpa do PT. No entanto, como apurou esta Gazeta, o livro só pôde parar em bibliotecas escolares porque em 2022, portanto ainda no governo Bolsonaro, a obra foi incluída no PNLD.

Aqui o bolsonarista médio dirá que precisamos ter pena, muita pena do pobre ex-presidente da república, que tomou a facada por nós e portanto deve ser desculpado de tudo eternamente. Que esses esquerdistas são tão insidiosos que enganaram o Mito. Os mais extremados dirão até que os esquerdistas são tão insidiosos que conseguem enganar todo o mundo com um sósia de Lula, substituindo o original, que já morreu. Realmente, diante de um mal quase sobrenatural, é impossível o Mito ter sucesso, de modo que o que resta agora é ficar convocando manifestação sem pauta e medindo audiência de live para mostrar que ele é popular. Algo que Taylor Swift também é, mas nem por isso se crê que ela seja uma pessoa habilitada para o exercício do poder.

De minha parte, creio ser mais oportuno observar o interesse econômico por detrás da inclusão de obras como a de Jeferson Tenório no PNLD. Comecemos notando o óbvio: a obra é uma porcaria. Para concluir isso, basta ler um trecho mostrado na reportagem: “Vem, minha branquinha. Vem, meu negão. Chupa a tua branquinha. Chupa o teu nego. Adoro a tua pele branquinha. Adoro a tua pele, meu nego. Adoro tua b… branca. Adoro teu p… preto”. É difícil acreditar que um homem adulto tenha escrito tal coisa; e, se não vivêssemos na era da pornografia ilimitada e desenfreada, eu acreditaria tratar-se de uma adolescente inexperiente escrevendo suas fantasias sobre como seria o ato sexual, tendo espiado as páginas de um romance pornô ou ouvindo conversas de bêbados. Porque qualquer pessoa que chegou à maturidade sexual sabe que a cor das genitálias não corresponde à cor da pele. Já dizia o presidente Collor: “Eu tenho aquilo roxo!” Uma donzela poderia achar que as genitálias são da cor da pele, levando-se em conta que as mulheres olham pra baixo e enxergam o monte de Vênus.

No mais, adolescentes inexperientes costumam ser muito vulgares em qualquer representação do sexo. O erotismo desse romance está para o erotismo de Gregório de Mattos como um desenho de pênis em porta de banheiro de escola está para um nu masculino de Michelangelo.

Não obstante, essa porcaria ganhou um Jabuti. Assim, o que temos (segundo a nota do governo) é uma banca de “professores, mestres e doutores, que tenham se inscrito no banco de avaliadores do MEC” e que aprovaram o livro vencedor do Jabuti para ser adotado em sala. É possível que não tenham lido. É possível que pessoas com interesses ligados às editoras tenham se inscrito no tal banco do MEC. De todo modo, recomendar a compra de um livro com um Jabuti não parece nada muito exótico para quem vai avaliar livros sem lê-los, quiçá fazendo favores a editoras interessadas.

Como até as pedras sabem, o wokismo é uma importação dos EUA e do mundo anglófono em geral. Foi nesse cenário que se começou a criticar a bibliografia de “dead white males”, homens brancos mortos, para sair vandalizando currículo, tirando clássicos e botando nulidades no lugar, usando a cor da pele como desculpa. No Brasil, os “dead white males” são gente como Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Souza… Mas não importa. O que importa é que uma obra do “homem branco” Machado de Assis pode ser editada por mil e uma editoras (inclusive pelo governo) e ser vendida bem baratinho, ao passo que os escritores “negros” como Jeferson Tenório, Itamar Assunção, Geovani Martins ou Paulo Scott, caso sejam adotados em escolas públicas, obrigam o governo a comprar das suas respectivas editoras e a pagar direitos autorais. Citei os quatro porque são quatro que não passariam num tribunal racial da USP, mas vivem dizendo a todo o mundo o tempo inteiro que são negros (Paulo Scott é o mais sem-noção de todos).

Eu não conheço nenhum negro que fique dizendo que é negro, pois dá para ver. Quando um escritor fica se apresentando como negro, é por ser uma criatura sem talento que só enxerga possibilidades de ascender no mercado editorial por meio desse esquema, que não é crime, mas é feio pra burro. É legal, porém imoral. É ganhar dinheiro em cima da incultura da juventude brasileira, devorando o nosso futuro.

Muitos críticos do identitarismo apontam, corretamente, que a retirada do livro das escolas vai inflar o ego do autor e deixá-lo insuportável. Mas não creio que essa seja a questão. O mais importante nessa história é dar livros bons para as crianças e os adolescentes lerem. O avesso da pele (Companhia das Letras, 2020) com certeza não é um deles.

Quando um escritor fica se apresentando como negro, é por ser uma criatura sem talento que só enxerga possibilidades de ascender no mercado editorial por meio desse esquema

Que fazer de agora em diante? O mínimo que podemos esperar é que o fato de ter um Jabuti não conte mais nada a favor de um livro; quiçá, que seja visto como algo suspeito e a ser evitado em princípio. Doravante diríamos que tal livro tem um Jabuti, mas é bom. Outra coisa elementar é saber como os livros foram, afinal, parar nas escolas, já que o MEC alega que eles foram solicitados e as escolas negam. Se eles de fato não tiverem sido solicitados e o MEC tiver saído comprando montanhas de exemplares para desovar em escolas, só penso num grande interessado econômico: a Companhia das Letras. Mas é claro que, sendo esse o caso, o governo Lula tem que ser cobrado e cabeças terão de rolar.

Alçando as vistas, o que devemos esperar é um governo federal que se responsabilize pela qualidade do material didático e pela cultura de modo geral. Agora os conservadores vão ter que cobrar isso de Lula, porque o governo Bolsonaro já acabou e, a julgar pelo caso em tela, não deu muito certo.

Se o governo Bolsonaro tivesse tido uma competência que justificasse a adoração do Mito até os dias de hoje, ele teria criado um meio melhor de selecionar os livros para as escolas. Ele se elegeu mostrando um livro infantil obsceno; o mínimo que deveria fazer em respeito ao seu eleitorado (que me incluiu) era prestar especial atenção ao material distribuído nas escolas pelo seu próprio governo, o federal.

A direita liberal-conservadora está em maus lençóis. Eu não tenho problemas em reivindicar mais poder e responsabilidade para o Estado (especialmente o Executivo, eleito) sobre questões de cultura. Mas o liberal-conservador espera que o mercado, que nos dá funk, reja a cultura; e que o Executivo, mesmo quando ocupado por um conservador, seja impotente. Aí a cultura, seja sob Bolsonaro ou Lula, fica como está agora: na mão de lobista que empurra porcarias para a juventude brasileira.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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