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Um intelectual brasileiro, segundo os Estados Unidos e seus satélites.
Um intelectual brasileiro, segundo os Estados Unidos e seus satélites.| Foto: Reprodução redes sociais

Os três maiores assuntos brasileiros dos últimos dias relativos à esquerda foram, ao meu ver, a série de presepadas da Dama do Tráfico, a perseguição à jornalista do Estadão capitaneada por Felipe Neto e a revelação, pelo youtuber Henry Bugalho, do financiamento estrangeiro recebido por ele e outros youtubers lulistas para defender “a democracia” – leia-se, Lula e a infalibilidade das urnas eletrônicas sem comprovante impresso. Esses três assuntos têm uma coisa em comum que vai muito além da política nacional: a ingerência do assim chamado “Ocidente” sobre a soberania brasileira.

Comecemos pelo menos evidente, que é o caso da jornalista do Estadão. Como disse Luciano Trigo nesta Gazeta, criticando um editorial do próprio Estadão, “foram os meios de comunicação que, sem qualquer rigor e da noite para o dia, expeliram profissionais sérios e transformaram jornalistas em ‘influenciadores’ com um smartphone na mão – ou, pior ainda, reconheceram como intelectuais relevantes e formadores de opinião cantoras de funk e youtubers que até outro dia eram mais conhecidos por imitar focas.” Filipe Neto, que imitava focas para crianças, foi alçado junto com Anitta a alguma espécie de referência intelectual na política. Mas foi alçado por quem? No caso de Felipe Neto em particular, a ascensão foi meteórica: ele chegou ao jornal The New York Times e à revista Time. Em julho de 2020, o The New York Times publicou um vídeo em que Felipe Neto explicava por que Bolsonaro era mau como um pica-pau, e em setembro ele foi eleito pela Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo inteiro. O finado David Miranda, de Glenn Greenwald, escreveu o seu perfil para a revista.

Quem produziu o vídeo de Felipe Neto para o The New York Times foi Alessandra Orofino, uma ongueira de marca maior, co-fundadora da ONG Nossas, a qual tem relações com o Sleeping Giants. Quanto à própria Orofino, a Nossas informa que é diretora do programa de Gregório Duvivier na HBO e, mais importante, fellow da Obama Foundation, “uma honra concedida a apenas 40 lideranças do mundo todo”. Se percorrermos o fio da Nossas com explicações, encontraremos um pacote completo do wokismo: favelas, terras indígenas na Amazônia, mulher, “democracia”, combate ao “ódio” e até corte de privilégios de políticos à moda antiga. Ela é uma Tabata: formou-se nos EUA (em Economia, Columbia) e veio ao Brasil representar a “nova política” como fato inexorável.

Os EUA permitem que os empresários (Bill Gates, por exemplo) convertam seus impostos em doação a ONGs consideradas filantrópicas como “501(c)(3)” (a Fundação Bill & Melinda Gates, por exemplo), e que essas ONGs não informem quem são seus doadores.

O somatório Amazônia + Gregório Duvivier + “democracia” nos leva ao Washington Brazil Office, um escandaloso projeto de interferência estadunidense sobre o Brasil. É preciso pontuar bem direitinho: nada disso vem da China ou da Rússia, mas sim dos Estados Unidos. De todo modo, dada a perseguição do Sleeping Giants a esta Gazeta, por aí se vê que a jornalista do Estadão não é a primeira vítima dessa turma. A direita faz bem em lembrar as listas negras de jornalistas divulgadas pelo PT; mas no caso em tela, à sanha petista soma-se a sanha ongueira ancorada nos EUA, que é a pátria da cancel culture. Alessandra Orofino inclusive teve por cerca de um ano coluna na Folha de São Paulo e tem um perfil de colaboradora na piauí, a revista dos banqueiros Moreira Salles. Em 2020, Alessandra Orofino era elogiada no Estadão por João Gabriel de Lima e por Pedro Dória. Eis como eu leio o rolo com a jornalista do Estadão agora: briga interna; os petistas acharam que podiam mandar nos ongueiros made in USA, mas não podem.

Dos Estados Unidos vêm também a interferência que Henry Bugalho entregou: o próprio Youtube, mais algumas fundações (será a de Soros? a Ford? a de Obama?) financiaram ele e mais alguns youtubers para defender aquilo que o atual establishment dos EUA entende por democracia. (Não foi a China que enviou burocratas para o Brasil às vésperas das eleições para "conversar" com as autoridades e defender urna eletrônica, foram os EUA que enviaram Victoria Nuland para isso.) O pior aspecto desse evento é o seguinte: nós só ficamos sabendo porque o tal Henry Bugalho entregou. Não temos como saber mais nada. Que fundações foram? Será mais um assunto para a CPI das ONGs?

Um caso similar é o de Gustavo Gayer – aquele que lista brasileiros para dedurar à embaixada dos EUA por crime de opinião. Gabola do jeito que é, contou nas redes sociais que não usou dinheiro público para ir aos EUA (conduta que Alessandra Orofino na certa aprova), e que o apoio que lhe foi ofertado, na forma de hospedagem, veio da Heritage Foundation, mas ele recusou. A Heritage Foundation é uma ONG "filantrópica", nos mesmos moldes fiscais da Fundação Ford, fundada por apoiadores de Reagan nos anos 70. O que mais essa ONG oferta a deputados brasileiros de direita? Temos como saber?

Um detalhe perturbador dessas ONGs é que elas não têm transparência nenhuma quanto aos seus doadores. Os EUA permitem que os empresários (Bill Gates, por exemplo) convertam seus impostos em doação a ONGs consideradas filantrópicas como “501(c)(3)” (a Fundação Bill & Melinda Gates, por exemplo), e que essas ONGs não informem quem são seus doadores. Por isso, elas não podem, em tese, influenciar políticas públicas nos EUA. Mas deitam e rolam sem nenhum pudor aqui. Pois bem: a Fundação Ford, muitas entidades sob o guarda-chuva das Open Society Foundations, a Heritage Foundation e – pasme – até a controvertida Verra, certificadora de crédito de carbono que quer apitar na Petrobrás, são 501(c)(3). Um escândalo!

Vamos por fim à Dama do Tráfico. Como esta Gazeta apontou, ela pôs os holofotes sobre a falta de fiscalização do Estado sobre as ONGs, já que a mulher em questão tem uma ONG de direitos dos manos. É preciso, porém, olhar mais para longe no tempo e espaço. Quem promoveu a ideologia dos direitos humanos pelo mundo foram os EUA. Quem introduziu as ONGs no Brasil como veículos da “política do futuro”, chegando a chamá-las de organizações neogovernamentais foi Fernando Henrique Cardoso, que é uma cria do CEBRAP, que, a seu turno, é a primeira cria da Fundação Ford no Brasil. A Fundação Ford não é chinesa nem russa.

Jornalista e youtuber brasileiro, seja de esquerda ou de direita, é quase tudo colonizado. Se for de esquerda, fica “ai, ui, mulher negra”. Se for de direita, fica “ai, ui, Reagan-Thatcher”.

Outra coisa que não podemos perder de vista é que, onde há ONG de Soros, há apologia do tráfico. Seja aqui ou nos EUA, em Portugal ou na Colômbia, se há dinheiro de Soros (considerado “caridade” graças aos EUA), há apologia do consumo de drogas e, por tabela, do tráfico. (O mais recente caso escandaloso no Brasil foi o do “uso seguro” em Olinda.) O tráfico movimenta bilhões de dólares no mundo inteiro e, até prova em contrário, podemos crer que sejam lavados nos EUA por meio de doação para a “filantropia” de Soros e similares. É algum absurdo supor que o governo dos EUA tenha algo a ver com a promoção de drogas ilícitas mundo afora?

Bom, aqueles que não se prendem ao American Sector da internet (que não é mais global) terão visto russófilos teimar que a CIA é um cartel e usar como evidência disso o fato de que a produção de papoula no Afeganistão despencou desde a retomada da área pelos Talibãs. Obviamente não tenho como saber da CIA, mas posso apontar, tanto na Al-Jazira quanto na BBC, a notícia de que os Talibãs destruíram as plantações papoulas. As papoulas, para quem não sabe, são a matéria-prima do ópio, e os EUA têm um sério problema de vício em opioides. Assim como plantações de maconha e coca, plantações de papoula são muito importantes para o tráfico, e não são fáceis de plantar em qualquer lugar. Quem sabe esses canabioides sintéticos (como K9) não apareceram para suprir uma demanda desfalcada, já que cannabis se planta com uma certa facilidade, inclusive legalmente?

Seja como for, vocês não vão ver nada no mainstream brasileiro falando do fim das papoulas no Afeganistão. Porque jornalista e youtuber brasileiro, seja de esquerda ou de direita, é quase tudo colonizado. Se for de esquerda, fica “ai, ui, mulher negra”. Se for de direita, fica “ai, ui, Reagan-Thatcher”. É tudo papagaio de ONG sem saber.

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