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A Bolívia e o lítio
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Tenho um problema com posturas radicais, especialmente em política. Normalmente, quem dogmatiza a política acaba emburrecendo e vendo só um lado das coisas. Que isso não nos aconteça.

Hoje, um dos assuntos do dia é o lítio na Bolívia. Hmmm. Ao que tudo indica, nossos vizinhos têm uma das maiores reservas de lítio do planeta. E o mundo está babando atrás dessa reserva.

O lítio serve para fazer baterias de carros. Como se sabe, somos um planeta viciado em carros.

Empresas japonesas e francesas já estão tentando entrar no país. Segundo reportagem do New York Times, a lista de empresas que podem ter interesse no lítio boliviano inclui gigantes do setor automotivo, como GM, Nissan, Ford e BMW. Todas essas têm projetos de carros híbridos que incluem bateria de lítio-íon para substituir os combustíveis fósseis.

O governo boliviano – sim, é o Evo Morales, mas vamos esquecer a persona e lembrar que se trata de um governo – já deu a entender que quer proteger suas reservas. Não quer estrangeiros explorando o mineral diretamente. Quer os estrangeiros como sócios – ou, melhor ainda, nas palavras de um entrevistado do NY Times, como clientes.

Evo Morales é um radical. Sim. E me assusta, às vezes. Mas costumo ficar mais assustado é com a reação dos radicais do outro lado. Certamente a essas alturas já deve haver gente dizendo que o governo boliviano foi tomado por um tirano, um anti-democrata, um populista, etc. Já posso antever os comentários neste mesmo blog.

Mas é preciso ser um pouco míope para não ver o lado histórico da coisa. Os bolivianos, assim como seus vizinhos de América Latina, têm sido eternamente provedores de matéria-prima barata para a indústria do Hemisfério Norte.

O discurso é velho? É retrógrado? Sei lá. Mas sei que é verdade. Nós, no Brasil, sabemos o que é viver de commodities. Os bolivianos sabem, também – sua maior riqueza, o petróleo e o gás, já foram levados a preços baratos demais em tempos anteriores.

Todo país do terceiro mundo tem sua história do gênero: descobre-se uma riqueza; os países ricos e suas empresas vêm e levam a preço de banana; e o país que tem o recurso fica exatamente como estava, à exceção de alguns novos magnatas que passam a dominar o país.

É uma verdade tão óbvia que até Hollywood sabe disso! Até o último filme do James Bond foi sobre a Bolívia e uma empresa que derruba o governo para ficar com recursos naturais do país! O discurso é tão ultrapassado que virou lenda ou é tão verdadeiro que nem mais vale a pena esconder como funciona?

O fato é que acho que os governos de países pobres têm mesmo é que defender o pouco que têm. Temos petróleo? O primeiro mundo precisa? Que pague. E o lítio? Paguem e terão.

Mas aos olhos de muita gente isso é inaceitável. Não gostam de Evo Morales? Também não sou seu fã. Mas daí a preferir a GM e a Ford, são outros quinhentos.

E, para encerrar: nem acho que seja entre Morales e a Ford. E, sim, é sobre o povo boliviano. Não acho que eles mereçam perder a parada. Uma vez na vida, que ganhem bem pelo que têm debaixo de seus pés.

Para quem quiser mais, aí vai a tradução reduzida da matéria do NY Times feita pela Folha de São Paulo.


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