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A guerra e a paz de Gustavo Fruet
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Gustavo Fruet foi ontem de bicicleta da Câmara até a prefeitura. Belo gesto, não há dúvida. Ainda mais se lembrarmos que a maioria dos homens públicos por essas bandas gosta mesmo é de carros de corrida, helicópteros e veículos blindados. Melhor ainda teria feito se fosse de busão, um sistema muito mais importante para centenas de milhares de pessoas e que exige melhorias imediatas. Mas os cicloativistas, na maioria de classe média alta, têm mais poder de mobilização do que os passageiros do Alferes Poli. Fazer o quê? Políticos vivem de agradar seus grupos de pressão.

Sensato, cordato, pacífico, Fruet é um diplomata nato. Sabe agradar. Mesmo sendo milionário e agora prefeito de uma grande cidade, continua com cara de paisano, o típico sujeito que você pode encontrar ao dobrar a esquina de casa. Faz bem em participar dos ativismos da classe média? Claro. Defender animais de rua, pedalar pela cidade ou fazer declarações sobre os direitos do urso panda serão sempre atitudes bem-vindas. E, nisso, Fruet certamente será exemplar, o que não é pouca coisa. Todos sabemos o que quatro anos de requianismo trazem de feridas a ser costuradas.

Mas ser prefeito de uma cidade cheia de problemas exige muito mais do que cordialidade. Exige enfrentamento. Fruet terá pela frente, como ele mesmo ressaltou, o desafio de melhorar o transporte coletivo. Isso ao mesmo tempo em que terá de manter a tarifa a um preço razoável. Para isso, precisará ver a fundo as contas do baronato das empresas de ônibus. Será ele o homem certo para a função? Esqueça o fato de Fruet ter se aliado a Osmar Bertoldi, dono de uma das empresas de ônibus da cidade. Pense só no tipo de conflito que isso representa.

Este, é claro, é só um exemplo de tarefa difícil para os próximos quatro anos. Há ainda o ICI e seus interesses. Há as grandes empreiteiras, que ganham com viadutos estaiados de R$ 94 milhões e que ganharão muito mais com o bilionário metrô. Há os 38 vereadores, não nos esqueçamos. Há os partidos aliados, ávidos pelo poder que tanto desejaram. Fruet não poderá agradar a todos, nem foi para isso que a população o elegeu. E fazer uma cidade melhor exige confrontos. Exige fazer descontentes.

Durante a eleição, Fruet respondeu a essa pergunta numa sabatina que promovemos na Gazeta. Perguntei sobre a experiência dele no PMDB: Requião o confrontou, e Fruet virou tucano. No PSDB, Richa virou o cacique e o boicotou: Fruet ficou até o fim, para lutar pelo partido? Não, virou trabalhista. Seria uma aversão ao confronto? Fruet respondeu longamente, dizendo que era sim um homem de comprar as brigas necessárias. Citou o mensalão, quando ajudou a cassar quatro envolvidos. O caso do deputado da motosserra. E as próprias brigas internas do partido.

Ok: todo mundo tem direito a crédito. Todos veremos agora como o novo prefeito se comporta. Será o caso de pegar o Circular Sul daqui a quatro anos e ver como ficaram o Osternack, o Pantanal, o Xapinhal e o Bairro Novo. Se o ônibus e as vilas estiverem na mesma, a promessa de mudança terá sido em vão. Esperemos que o modo de ir à posse, por mais que seja elogiável, não tenha sido o gesto mais ousado do novo prefeito. Afinal, todos queremos um bom 2013.

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