• Carregando...
As denúncias de um possível caixa dois de Richa em detalhe: o que, afinal, se sabe sobre isso?
| Foto:

Richa ALDesde a prisão de Marcelo Caramori, no início do ano, e principalmente desde que começaram as operações do Gaeco na Receita Estadual, vieram à tona várias informações sobre possível uso de dinheiro ilícito na campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB). Na verdade, todas as informações partiram de duas delações premiadas.

Como o caso ganhou repercussão e tem importância, talvez valha a pena deixar claro o que existe até o momento e o que não se pode afirmar.

1-) A delação de Caramori

Marcelo Caramori e sua tatuagem.

Marcelo Caramori era um funcionário comissionado do governo do estado de escalão inferior. Em tese, era fotógrafo. Mas foi preso no início do ano por acusação de participar de um esquema de exploração sexual de menores.

No momento da prisão, chamou atenção pela suposta proximidade com o governador Beto Richa. Apareceram fotos dele com Richa e descobriu-se que Caramori mostrou aos policiais que o prenderam uma tatuagem em que dizia ser “100% Beto Richa”.

Preso, Caramori virou colaborador. Disse basicamente que Luiz Abi era encarregado de colocar pessoas em postos chave da administração Richa para arrecadar dinheiro para a campanha.

O depoimento sobre esse tópico ocorreu em 5 de fevereiro deste ano. O conteúdo, segundo o Gaeco, é o que se segue:

“[…] Luiz Abi trata-se de pessoa de fundamental importância na estrutura política do estado, sendo de conhecimento público o grau de influência e determinação que referida pessoa exerce sobre o governo e sobre todos os comandados da polícia militar, receita estadual, etc.;

Luiz Abi atua, entretanto, sempre nos bastidores, sendo certo que se preocupa e não aparecer em fotografias ou em quaisquer exposições públicas;

[…] que Luiz Abi é o grande caixa financeiro do governador Beto Richa, incumbindo-lhe bancar campanhas políticas e arrecadar dinheiro proveniente dos vários órgãos do estado;

é fato que Luiz Abi exerce fundamental tarefa nesse esquema de arrecadação, incumbindo-lhe a escolha e indicação de pessoas que exerçam cargos em comissão em pontos estratégicos do estado: chefes de fiscalização, policiais, etc.”

2-) A delação de Luiz Antônio

Luiz Antônio de Souza.

Luiz Antônio de Souza chamou bem menos atenção do que Caramori quando foi preso. Auditor da Receita, chegou a ocupar cargos de confiança. Foi preso na primeira fase da Publicano e também virou colaborador.

Na sua delação, disse algo bem semelhante, que foi transcrito na íntegra na denúncia apresentada nesta quarta-feira pelo Gaeco.

“Que MARCIO afirmou ao depoente que LUIZ ABI tinha, em 2014, a expectativa de que a Delegacia de Londrina arrecadasse cerca de 1 milhão de reais para a campanha eleitoral de BETO RICHA, enquanto a 1a Delegacia de Curitiba deveria arrecadar ao menos 2 milhões para a campanha (…);

Que, com relação às demais Delegacias (sendo certo que isso inclui as Delegacias Regionais de MARINGÁ, UMUARAMA, CASCAVEL, FOZ DO IGUAÇU E PONTA GROSSA), o compromisso era de que a própria IGF (Inspetoria Geral de Fiscalização) repassaria diretamente para LUIZ ABI R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) mensais, por cinco meses, que seriam recolhidos pela IGF dessas Delegacias;

Que, assim que MÁRCIO assumiu a função de Inspetor Geral de Fiscalização, os próprios Delegados e Inspetores Gerais de Fiscalização das Delegacias de Maringá, Umuarama, Cascavel, Foz do Iguaçu e Ponta Grossa iam levar o dinheiro (que totalizaram R$ 1.500.000,00 – um milhão e quinhentos mil reais, ou seja, cinco parcelas de 300 mil reais) para MÁRCIO, que, por sua vez, os entregava a LUIZ ABI;

Que mesmo antes de MÁRCIO chegar na IGF, essa “contribuição” com dinheiro de propina para a campanha eleitoral já estava acontecendo, ou seja, MÁRCIO pegou o “bonde andando”;

que antes de MÁRCIO, VALÊNCIO ocupava o cargo de Inspetor Geral de Fiscalização; desse modo, é do conhecimento do declarante que, para financiar a campanha de BETO RICHA, foi arrecadado nas Delegacias Regionais da Receita a quantia aproximada de R$ 4.300.000,00 (quatro milhões e trezentos mil reais), ou seja, R$ 2.000.000,00 da Delegacia de Curitiba, mais R$ 800.000,00 da Delegacia de Londrina;

mais R$ 1.500.000,00 das demais Delegacias mencionadas acima; que o declarante não sabe se houve outras arrecadações para a campanha utilizando a Receita Estadual; que o declarante acredita que as demais Delegacias Regionais (de Jacarezinho e de Guarapuava) não participavam dessa “contribuição”;

que MÁRCIO entregava o dinheiro pessoalmente para LUIZ ABI, em Londrina ou em Curitiba;

que LUIZ ABI tinha pleno conhecimento da origem do dinheiro advindo das Delegacias da Receita, ou seja, sabia que o dinheiro era propina de empresários paranaenses.”

3- O único documento

Ao contrário do que ocorreu com Caramori, Luiz Antônio apresentou documentos que comprovariam sua participação financeira e possíveis irregularidades na campanha. A nota fiscal que o Gaeco incluiu na nova denúncia mostra a compra de divisórias para o comitê de Londrina que não foram registradas na prestação de contas da campanha.

4- O que não há

O PSDB nega qualquer irregularidade na campanha. Nos bastidores, trabalha para dizer que Caramori e Luiz Antônio de Souza não têm credibilidade, já que são criminosos confessos envolvidos com coisas pesadas, inclusive com denúncia de exploração sexual de menores.

O partido, que é quem responde por isso, também afirma que as contas apresentadas à Justiça Eleitoral foram aprovadas. E realmente: no eleitoral, dificilmente algo seria provado agora, até porque os prazos para contestação de contas já se encerraram.

As denúncias até agora são de duas pessoas que, oficialmente, pelo menos, estavam fora da estrutura central de campanha, o que parece facilitar a defesa de Richa.

De resto, só o Gaeco pode saber o que mais tem e o que mais não tem para revelar nos próximos tempos.

Siga o blog no Twitter.

Curta a página do Caixa Zero no Facebook.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]