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Clayton Camargo e a cultura do “você sabe com quem está falando?”
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Fabio Camargo

O desembargador Clayton Camargo completa uma semana de afastamento do trabalho nesta terça-feira. Pode ser que em breve reverta a decisão do CNJ e consiga retomar o cargo no Tribunal de Justiça. Pode ser que, no final das contas, seja absolvido de todas as acusações.

No entanto, mesmo que volte às funções de antes, a política local e, principalmente, o Judiciário local, não serão mais os mesmos. Pelo menos é o que se depreende dos comentários que surgiram desde que o desembargador, em decisão inédita, teve de sair temporariamente do posto.

Vi uma vez alguém falar que existem dois modos de as pessoas se relacionarem com autoridades. Um deles, típico no Brasil, depende da frase: “Você sabe com quem está falando?” É a relação que dá poderes praticamente ilimitados à autoridade. Poderes que só são cerceados por outra autoridade maior.

Enquanto não aparecer alguém com as costas mais quentes, a autoridade fica tranquila em todos os seus atos. Respeite ou não respeite a lei, respeite ou não as regras mínimas de convivência, ninguém poderá lhe fazer nada. Todos terão de lhe beijar a mão em alguma hora, e portanto nem se arriscarão a confrontá-lo.

Clayton Camargo mostrou que fazia esse tipo. Entre outras circunstâncias, quando respondeu ao repórter Euclides Lucas Garcia dizendo que não lhe daria entrevistas. Não precisava prestar contas de seus atos? Ora, o repórter que fosse entrevistar a própria mãe.

As mudanças institucionais do Brasil, ainda bem, estão deixando esse tipo de atitude para os livros de história e para o folclore. Talvez seja a hora de usar outra frase, que corresponde ao outro modo de vermos as autoridades. “Quem você pensa que é?”

Numa sociedade em que todos somos iguais, ninguém tem o direito de se erguer acima da prestação de contas, acima do Direito, só por estar em um posto de autoridade. Será que chegamos lá?

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