Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:
Todo mundo sabia que os moradores de rua seriam um dos temas da eleição curitibana. Rafael Greca, a seu estilo, quando chamado para a primeira sabatina da Gazeta do Povo, em janeiro, sapecou logo a primeira piadinha sobre o tema: “Mas como eu vou chegar na Carlos Gomes? Vou ter que sair pulando por cima dos mendigos”.
Na época, Fruet enfrentava um pesadelo com a história dos moradores de rua. Um empresário, num momento de higienismo, chegou a pedir que tirassem a população de rua à força, para não atrapalhar o comércio. Pululavam notícias como a de um comerciante que inventou um meio de molhar a calçada à noite para que ninguém dormisse à sua porta.
Curiosamente, a história acabou se voltando a favor de Fruet e contra Greca. Tudo graças à boca grande do ex-prefeito. O Palácio Iguaçu já estava contando vantagem que seu candidato ia ganhar a eleição de Fruet como quem tira doce de criança. E de repente Greca, para não perder a piada, decidiu perder o eleitor.
Agora, Greca tenta remar tudo de novo. Diz que foi um engano, um erro de comunicação. E parece que, no fundo, foi isso mesmo. Ele poderia ter contado exatamente a mesma história sem parecer ofensivo. Era só dizer: o trabalho de assistente social é duro. Quem vive nas ruas muitas vezes enfrenta condições tenebrosas, doenças, falta de higiene. Para quem não está acostumado, até conviver com essas pessoas, independente do tamanho da boa vontade é difícil etc.
Na segunda-feira, no debate entre Trump e Hillary Clinton, o candidato dos republicanos voltou a fazer o que se espera dele: falou bobagem. Deu a entender, por exemplo, que a China deveria invadir a Coreia do Norte (!) e que os Estados Unidos deveriam parar de defender países aliados (!!). Quando voltou a sua vez, Hillary, sorrindo, disse simplesmente que “palavras importam” e que quem quer ser presidente dos EUA devia saber disso.
Seja quem for o próximo prefeito de Curitiba, é necessário aprender essa lição: palavras importam. Na época da campanha, pelo menos, os candidatos costumam ser mais cuidadosos com o que dizem. Se nem na campanha se preocupam com isso, imagine depois de chegarem ao cargo e terem a garantia de que permanecerão por lá durante quatro anos, sem precisar de aval de mais ninguém.
***
Depois da gafe de Greca, todos os candidatos saíram abraçando mendigos pela cidade. Claro, com fotógrafos e cinegrafistas devidamente a postos. Maria Victoria (PP) foi à Praça Tiradentes gravar com moradores de rua e vender seu projeto de dar uma cama fixa para cada um nos abrigos.
Ney Leprevost (PSD) também acusou a atual gestão de deixar a população de rua aumentar, apertou a mão de pessoas dormindo no Centro e disse, apelando para o velho clichê, que é preciso “ensinar a pescar”, e não apenas “dar o peixe”.
Como se os moradores de rua não tivessem problemas suficientes, agora têm que ficar sendo garoto propaganda dos candidatos.
Siga o blog no Twitter.
Curta a página do Caixa Zero no Facebook.
-
Lula emplaca reoneração nas empresas, mas enfrenta resistência das prefeituras
-
Netanyahu consulta ministros após decisão da CIJ sobre interrupção de ofensiva em Rafah
-
Quem é o brasileiro Michel Nisenbaum, morador de Israel que foi raptado e morto pelo Hamas
-
Novela judicial da abertura de cursos de Medicina ganha capítulo final no STF
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião