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Comício das Diretas Já em Curitiba, em 1984. Para não esquecer o quanto eleição faz falta.

Ok: eleições podem ser um saco. Não as eleições em si, mas o período que as antecede. Quem aqui não está com a paciência esgotada de ficar lendo sobre teorias da conspiração nas redes sociais? Quem aqui não desejaria que seus amigos fossem menos radicais ao falar de suas escolhas? Quem aqui não desejou pelo menos por um instante mandar alguém próximo (às vezes um bom amigo) catar coquinho na descida?

Eu passei por tudo isso. Tédio de ver que “isso a Globo não mostra”. Irritação de ouvir que a Dilma criou o bolsa crack. Descrença da humanidade ao ver gente tentando ligar Aécio aos nazistas. Vergonha alheia de amigos queridos que ficam se expondo ao ridículo em nome de candidatos que pisariam no seu pescoço só para usar de degrau para o próximo mandato. Graças a Deus e à educação que me deram (valeu, mãe; valeu, pai), contei até 10, não mandei ninguém ver se eu estava na esquina e mantive meus amigos (acho).

E não terminou, não. Ainda tem o debate dessa sexta. As horripilantes interpretações que se darão a ele (“Só quem é idiota não vê que o candidato X ganhou!”) . A avacalhação que se seguirá à divulgação das pesquisas de intenção de voto “Só um mentecapto não vê que são compradas!”). A capa da Veja (ah, a Veja) com novas denúncias contra os “petralhas” e os petistas dizendo que a revista é isso e aquilo. Se der sorte, não entrarei no blog do Azevedo nem no Brasil 247. Pelo menos isso podemos evitar.

E depois da eleição, metade dos seus amigos estará insuportável. Muito pior que depois de derrota do time no campeonato. Rancorosos, amargos, descrentes, dirão que o mundo está por acabar. Terão certeza de que a eleição foi fraudada ou de que os eleitores que fizeram a burrada de votar em quem ganhou são mesmo uns ineptos. “Coxinhas, nazistas, preconceituosos”, dirão os petistas em caso de vitória de Aécio. “Bandidos, compradores de votos, coronéis”, gritarão os tucanos em caso de vitória petista.

Mas, sabe o que? Apesar disso tudo, a eleição será mais uma bela notícia para o país. Pela primeira vez em nossa história chegamos a sete eleições diretas, livres, universais e sem golpes. O velho chavão da “festa da democracia” gastou-se de tanto uso. Mas no fundo é isso mesmo. É esse o momento mais bacana da nossa vida democrática. Podermos ir lá e dizermos quem queremos que toque a carroça para frente.

Não dependemos de nenhum estrangeiro, de nenhum general, de nenhum oligarca, de ninguém, para dizer o que é melhor para nós. Se fizermos burrada, terá sido a nossa burrada. E, melhor ainda: daqui a exatos quatro anos, no primeiro domingo de outubro, já está marcado: estaremos lá, elegendo o sucessor de quem quer que ganhe neste domingo. Raivosos? Talvez. Arrependidos? Provavelmente. Mas livres para decidir de novo. Para acertar ou errar. E para fazer desse país, mais uma vez, nosso. Dos quase 200 milhões que somos. Dos mais de 140 milhões que votam, um a um, sem que qualquer voto valha mais que o outro.

Se tudo que você consegue ver são petralhas e coxinhas, pense de novo. Desembace os olhos. Você está diante da quarta maior democracia do mundo funcionando a pleno vapor.

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