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Curitiba vive dia histórico. E como você quer entrar para essa história?
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Goste-se ou não de Lula, é preciso admitir uma coisa: toda essa confusão em que o país está imerso por causa do depoimento dele à Lava Jato só existe porque ele é o maior nome da política brasileira em muito tempo. Possivelmente desde Getulio e JK ninguém galvanizou a atenção do povo como ele.

Há mais de um motivo para isso. Foi um dos poucos a ter dois mandatos inteiros de presidente (fora ele, com eleição, só FHC). Antes disso, a atividade sindical. Mas, principalmente, Lula virou um símbolo (coisa que nenhum outro político brasileiro dos anos 50 para cá conseguiu). Na eleição de 1989, era um símbolo da luta operária. Depois, em 2002, virou um símbolo da “esperança contra o medo”.

No governo, Lula virou um símbolo de um tipo de governo, com prática e discurso diferentes dos antecessores na área social. (Depois se descobrira que em outras áreas ele foi muito parecido com os antecessores…). Virou ainda um símbolo de político popular (e populista), com uma aprovação inédita e difícil de superar. E depois…

Depois veio o dilúvio, e Lula se transformou em um símbolo da esquerda que se corrompeu para chegar ao poder. Símbolo também de um governo que aceitou um pacto com um cartel corrupto em troca de favores. Que comprou o Congresso em troca da “governabilidade”. Que manteve as piores práticas dos predecessores e inventou outras piores.

Para o bem e para o mal, Lula não tem equivalentes no Brasil hoje. Ninguém foi tão amado quanto ele. Ninguém foi tão odiado quanto ele. Nunca tanta gente quis ver alguém voltar à Presidência. Nunca tanta gente quis ver alguém na cadeia. Eis o porquê do país dividido: mais do que um processo judicial, a ação contra Lula na Lava Jato é uma prova dos nove.

Metade do país acha que essa é a chance de vê-lo finalmente onde merece (na prisão). A outra metade acha que essa é a injustiça do século, que é a prova maior de que Lula é uma exceção dentro da elite: alguém que chegou lá mas nunca se tornou “um deles”, e que estaria pagando por ter supostamente confrontado essa elite.

Um processo judicial, numa democracia, serve unicamente para decidir se a pessoa cometeu ou não um crime. Mas há casos em que isso não é possível. Como ficou comprovado no caso de José Dirceu (um sujeito com 10% do peso político de Lula e menos de 1% de seu carisma), o que as pessoas querem é a canonização ou o empalamento em praça pública. Com Lula, esse sentimento se multiplica.

Por um lado, é um alívio saber que mesmo alguém que passou pela Presidência tem de responder pelos seus atos – algo quase inacreditável no Brasil. Por outro, desde 1954 o país não vive um momento de tal histeria, em que ou você faz parte de uma torcida ou de outra. Em que o outro lado é visto com um ódio quase insuperável.

Ninguém se engane. O que acontecer nesta quarta em Curitiba será estudado em livros de História daqui a 50, 100, 150 anos. E nós podemos passar para a História como aqueles que souberam ponderar democraticamente sobre este momento ou como os histéricos que transformaram isso em um miserável conflito entre fanáticos decidindo quem é que deve ser queimado em praça pública.

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