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Ler os textos que vêm sendo escritos sobre o acordo fechado entre Brasil, Irã e Turquia dá uma amostra de quanto o fanatismo de dois grupos políticos é capaz de criar situações ridículas. Se você lê o que escreve uma imprensa (a Lulista-haja-o-que-houver) e outra (a Anti-Lula-independentemente-do-que-aconteça) você pensa que estão falando de coisas diferentes.

De um lado, os lulistas veem uma vitória maior do que qualquer outra já obtida por nossa diplomacia. Talvez maior do que a obtida por qualquer diplomacia. Nunca na história desse país… Ou melhor, nunca na história desse planeta alguém conseguiu algo tão bacana quanto o acordo com Ahmadinejad.

Mas não é só isso. Nossa diplomacia é forte; nosso presidente toma decisões acertadas; o Brasil cresce em importância no cenário mundial; a Dilma Rousseff é cheirosa; e José Serra é um idiota porque não negociaria com Ahmadinejad.

Entre no site do Paulo Henrique Amorim ou um dos seus assemelhados e é isso que você vai ler. Pura perda de tempo.

Agora, entre nos blogs dos anti-lulistas. A direita acredita que nunca na história desse país… Ou melhor, nunca na história desse planeta um acordo foi tão ruim, vexaminoso, imprestável. Argh! Que coisa horrível é esse acordo.

A diplomacia brasileira é fraca, se alia a ditadores, Lula é um idiota útil a serviço de Ahmadinejad. E, claro, José Serra concertará tudo isso com seu charme, elegância e sabedoria. Basta lançar o sinal do tucano no céu e tudo estará resolvido.

Odeio esse fanatismo. Desde criança, meus pais me ensinaram que fanatismo é para os burros. O fanático, diz uma definição clássica, é aquele que continua fazendo uma coisa sem nem mesmo se lembrar por que. Ou, na frase de Churchill, é alguém que não muda de ideia e não muda de assunto (existe alguma definição melhor para o Reinaldo Azevedo?)

O fato é que nunca na história desse país houve tanto fanatismo em nossa imprensa, de um lado e de outro.

Claro que todos têm direito a uma opinião. Um colunista que acredite que o acordo é apenas uma cortuina de fumaça para que o Irã evite novas sanções pode e deve escrever isso. Mas, por favor, que pense antes de fazê-lo. E não escreva só porque dizer isso pode ajudar o PSDB a ganhar a eleição. Arranje argumentos plausíveis, elimine expressões como “idiota útil”, faça um texto decente.

Alguém pode também escrever a favor do acordo, dizendo que nossa diplomacia se fortaleceu, tudo isso. Mas não precisa dizer em seguida que “o PIG” isso ou que o FHC “ops, José Serra”, reagiu assim. Elegância, por favor. Ideias, não xingamentos.

Nada: o que se vê é preguiça de pensar uma vez depois da outra. O mundo é assim, eu escolhi defender Fulano e atacar Sicrano. Pouco importa se eles estão certos ou errados. Basta alinhavar um ou dois chav~eos que servirão de argumjentos e esconder qualquer boa ideia que possa servir de contraponto.

Minha mulher está à beira de me pribir de ler a Veja e o blog do Reinaldo Azevedo. A má-fé explícita desse pessoal me deixa de mau humor. A má-fé dos lulistas-acima-de-tudo também é evidente.

Ao contrário dos dois lados, acredito que a internet está prestando um desserviço à democracia com esse jornalismo de botequim, resumido em Twittter e reenviado aos membros de cada seita. Ao contrário dos dois lados, acredito que os jornais impressos ainda fazem uma melhor cobertura de política do que qualquer desses blogueiros metidos a donos da verdade de um lado e de outro. São mais comedidos, mais sérios e menos toscos.

Quanto a mim? O leitor que me perdoe, mas prefiro pensar antes de tomar partido em cada questão. É mais demorado, mais difícil, mas vale a pena. Não vou fazer lavagem cerebral e aderir a um dos dois partidos do momento. Má-fé não faz parte do que eu quero para mim.

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