Um fantasma ainda ronda a cabeça de muita gente – o espectro de Karl Marx. Não à toa, um nome que ficou associado a várias atrocidades cometidas no século 20: o comunismo, longe de ser a utopia que ele imaginava, foi responsável por tornar a vida de milhões num inferno.
Por isso dá até para entender quando alguém sente arrepios ao ouvir seu nome. Marx, para muita gente, é um trauma. Uma distopia. Um símbolo de uma ideologia totalitária. Alguém que criou um monstro – independente de ter ou não desejado isso.
O que não justifica uma certa histeria que de tempos em tempos ressurge de gente preocupada que o estudo de Marx seja um caminho para desvirtuar a juventude – e a ideia ainda mais estranha de que os professores de economia e ciências sociais (entre outros) fariam parte de uma conspiração marxista para dominar o mundo.
E no ano que vem, com o bicentenário de nascimento, a coisa tende a ficar ainda pior, com livros, biografias, hagiografias, demonologias, exorcismos e, claro, muita discussão insana nas redes sociais.
Marx de fato é um dos pais do comunismo. E o comunismo criou problemas enormes. Mas não importa o que você pense da teoria dele, uma coisa é fato: não há como explicar o mundo ocidental dos últimos cento e 170 anos sem falar dele.
Recentemente, aqui mesmo na Gazeta do Povo, fez-se um levantamento mostrando que nas bibliotecas de universidades públicas brasileiras há mais livros de Marx (e de outros pensadores de esquerda) do que de outros pensadores que se opõem a eles.
Mas a comparação não parece exata, nem justa. Do outro lado da balança havia apenas um nome que, talvez, tenha o mesmo peso de Marx, Adam Smith. De resto, Thomas Sowell e Roger Scruton, por exemplo.
Mesmo a comparação com Adam Smith é injusta. Ok, nosso amigo escocês pode até ser o fundador da economia moderna. Mas o que ele fez foi, acima de tudo, descrever o capitalismo já operante. Marx, além de ter um trabalho como economista no mínimo tão importante, fez algo absurdamente maior: influenciou os rumos políticos da humanidade.
O comunismo, diz Hobsbawn, se espalhou com uma rapidez que antes só se viu no Islamismo. Em meio século dominava um terço da população e um sexto do território do planeta. Como deixar de estudar alguém que gerou isso?
Pegue Schumpeter, por exemplo. Dificilmente alguém há de tachá-lo de comunista. Mas como ele começa sua obra-prima? Tendo de se ver com Marx. (Já se disse que Schumpeter é Marx com sinal trocado: os dois previam o fracasso do capitalismo, mas tinham sentimentos muito diferentes em relação a isso.)
Marx é o fantasma que assombra todo o liberalismo do século 20. Mas não é só. Marx é um dos principais nomes de duas das ciências mais importantes de nossos tempos: a sociologia (especialmente a sociologia política) e a economia. De quantas pessoas se pode dizer isso? Quem mais tem, além de uma obra teórica do peso de O Capital, relatos históricos tão importantes quanto O Dezoito Brumário de Luís Napoleão?
Além de tudo, era um escritor maior do que a média. Suas frases são inacreditáveis, seus slogans duram mais do que os de qualquer empresa capitalista. Proletários do mundo inteiro, uni-vos. A cada um segundo sua necessidade. Um espectro ronda a Europa…
Mas acima de tudo Marx escreveu um livrinho que mudou o mundo. se você fizer uma enquete séria no mundo intelectual dificilmente o Manifesto ficará de fora de uma lista de, digamos, três livros mais importantes desde a Revolução Francesa. Junto com Darwin e Freud, talvez, Marx mudou o jeito como pensamos em nós mesmos. Não é pouca coisa.
Se quiséssemos comparar a sério, teríamos que ver se se estuda mais Marx do que Freud, ele também fundador de uma ciência, ele também o símbolo contra quem seus detratores teriam de se virar. Ou do que Darwin, esse outro gigante.
Marx, goste-se ou não, foi um gênio. Representa como ninguém o momento que nos define: a transição do feudalismo para o capitalismo, da sociedade rural para o mundo urbano, de um mundo em que os teóricos queriam apreender Deus para outro em que se quer entender as relações humanas.
Se você quer entender o mundo, há que se estudar Marx, muito mais do que Mises. Se quer que seu filho saiba por que as coisas são como são hoje, dê a ele o Manifesto. E agradeça aos professores que lhe mostrarem suas teorias – inclusive para mostrar que muitas delas estavam redondamente enganadas.
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