Os militares da ativa, por questão de hierarquia, não podem falar o que pensam sobre política. Afinal, em tese, são subordinados à Presidência e Dilma está acima de qualquer general. Mas os da reserva são sempre como uma válvula de escape do pensamento militar. Por isso é sempre interessante ver o que se passa no Clube Militar, a casa dos reformados.
Mês que vem haverá eleições por lá. Há quatro chapas disputando a direção. Todas elas propõem coisas práticas, como reforma da sede, luta por melhores salários etc. Mas há algo mais em comum entre as quatro chapas. Todas elas, em seus programas de ação, disponíveis na internet, esculhambam com a Comissão Nacional da Verdade.
O blog reproduz abaixo o que cada uma diz sobre as investigações do período militar. Também criticam veementemente qualquer tentativa de reavaliar o escopo da Lei da Anistia. Como se vê, 50 anos após o golpe, a ditadura, pelo menos na cabeça de quem esteve nos quartéis, segue insepulta. Com doses variadas de mau humor, os candidatos a comandar o Clube Militar dizem o seguinte.
Chapa Tradição, Coesão e Ação
“Lutaremos pela manutenção da Lei de Anistia e em prol dos camaradas vítimas de revanchismo.”
“Criaremos a Assessoria Jurídica. Lutaremos pela manutenção da Lei de Anistia e em prol dos camaradas vítimas de revanchismo.”
Chapa Monte Castelo
“É defender os companheiros perseguidos pelo revanchismo ou enredados em armadilhas dos tempos que vivemos. É combater o revisionismo da história representado, por exemplo, pela comissão nacional da (in)verdade.”
“Queremos a discussão sadia, mas isso não significa que não estaremos prontos a agir, com os meios que forem necessários, enfrentando sem temor qualquer agressão contra a democracia ou contra as FFAA perpetradas por quem quer que seja. Agiremos, em princípio, dentro da lei, como vimos fazendo até hoje.”
Chapa Determinação
“Dar atenção especial às famílias dos mortos e feridos pelo terrorismo, cujo tratamento tem sido diferenciado do que o dado aos opositores da democracia, contrapondo-se á questionável Comissão da Verdade.”
Chapa Consolidar e Modernizar
“Acompanhar o trâmite da representação interposta pelos Clubes Militares junto ao Ministério Público Federal contra a parcial e revanchista Comissão Nacional da Verdade.”
“Manter também o acompanhamento da Ação de Rito Ordinário movida pelo Clube contra a União Federal, declaratória da nulidade da Portaria do Ministério da Justiça que garantia a promoção ao posto de General de Brigada do desertor, terrorista e assassino Carlos Lamarca.”
Felizmente, a escolha da direção do clube, que em outros tempos já significou muito, hoje passa despercebida. Serve, no entanto, como meio de aferir o que pensam nossos militares. As eleições estão marcadas para 28 de maio.
Deixe sua opinião