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eike xiaoping

Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta, na Gazeta do Povo:

Não faz muito, a revista Veja chamou Eike Batista de Eike Xiaoping: dizia que o empresário, na época o oitavo mais rico do mundo, era o símbolo de uma nova era no país e que era idolatrado por não ter vergonha de seu dinheiro. Ia mais fundo e afirmava que Eike era um novo paradigma de magnata no Brasil: “veio de baixo, progrediu à própria custa fazendo negócios no Brasil e, sobretudo, não teme ostentar sua fortuna”.

Agora, a revista astutamente descobriu que Eike era um “espertalhão” que “vendia gato por lebre”. A revista, sempre fiel a seus princípios liberais, aproveitou para mudar mais um detalhe da história. Enquanto Eike se dava bem, o mérito era dele. Quando o império derreteu, a culpa passou a ser do governo petista que o bancou. Vá entender.

Numa coisa, no entanto, Veja tem razão. O casamento de governo e empresários no Brasil é sempre motivo de preocupação para quem paga a conta: eu e você. Enquanto o sócio privado está ganhando dinheiro, o governo banca. Quando a coisa dá errado, divide o prejuízo entre os contribuintes.

Mês passado, o Paraná viveu, despercebidamente, mais um caso em que o poder público pagou a conta que não devia ser nossa. O governo de Beto Richa (PSDB) comemorou a diplomação dos últimos aprovados do antigo curso da Vizivali. Com isso, todos os 29 mil alunos que haviam comprado gato puderam finalmente ter acesso à lebre: estão dentro da lei e, com o novo diploma, podem lecionar.

No entanto, na história toda há pouco o que comemorar. O caso começou em 2002, quando o governador ainda era Jaime Lerner. O Conselho Estadual de Educação validou um curso a distância para professores que precisavam se adequar à nova legislação, que exigia diploma de todo mundo que quisesse continuar em sala de aula. Problema: o MEC proibia o conselho de validar a modalidade se­­mi-presencial para esse tipo de curso. Alguém ligou para isso?

A Vizivali era o peixe pequeno da história: carimbava diplomas. Quem tinha mais a ganhar com o curso era o Iesde, que organizava as aulas. Um dos professores do Iesde, já falecido, chegou a ser vi­­ce-presidente do Conselho Estadual de Educação enquanto o curso corria. E cada vez mais gente se matriculava. Chegou-se a quase 30 mil alunos, e um terço não preenchia o requisito mínimo de ser professor.

Cada um dos matriculados gastou cerca de R$ 4 mil com o curso. Até que alguém mandou avisar que nada daquilo estava valendo. O parecer do conselho paranaense foi jogado fora, assim como o diploma de todos os alunos. A partir de então, o Estado, como sempre, passou a pagar a conta. Foi isso que o governo paranaense comemorou em junho: o fato de ter bancado cursos “gratuitos” para 15 mil pessoas.

Imaginando que o preço anterior não fosse superfaturado e pondo zero de inflação em cima, o resultado é que o governo pagou o equivalente a R$ 60 milhões para corrigir o erro cometido 11 anos atrás pelos dignos conselheiros. O Ministério Público moveu uma ação contra os que promoveram o curso sem o poder. Alguém poderia erguer um cartaz dizendo que o Iesde e a Vizivali não nos representam. Para eles, talvez não faça diferença. O texto de apresentação do Iesde na internet diz que a empresa “não para de crescer”. Eis mais um novo paradigma para o Brasil.

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