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O DEM está baqueando. A direita, não
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Direita

Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

O repórter André Gonçalves publicou recentemente nesta Gazeta uma lista dos deputados federais paranaenses que não pretendem disputar a reeleição no ano que vem. Talvez não seja coincidência o fato de três deles serem ativos membros da bancada ruralista. Talvez não seja coincidência também o fato de dois deles serem do grupo que se recusou a aderir ao governo petista. Os ruralistas que tentarão se manter em Brasília são ligados a partidos como PMDB e PP, da base de Dilma.

Abelardo Lupion diz que anda difícil a vida em Brasília para alguém como ele. Único representante do DEM paranaense, Lupion é exemplo raro de deputado que assume ser de direita. “Meu dedo simplesmente não consegue apertar o 13 na urna eletrônica”, diz, afastando qualquer possibilidade de adesão ao atual governo. Mas por que está difícil? Segundo ele, quando o governo aperta, da imensa base ruralista sobram uns 30 em que ele pode confiar. “O resto afina”, diz.

A dominação do Executivo sobre o Legislativo não é coisa nova. A oposição, sem conseguir levar recursos para sua base, sofre. O que é novo é o fato de um partido conseguir três mandatos consecutivos na Presidência e com perspectivas sólidas de continuar no poder por mais quatro anos. Isso acuou a oposição, que parece sem poder e sem perspectiva de poder. Lula, no final de seu período, falou em exterminar o DEM. Não conseguiu, mas está a meio caminho. Só neste mandato, o partido recuou de 43 deputados para 25.

No entanto, isso não quer dizer que a direita no Brasil esteja sumindo. Estudo ainda inédito de pesquisadores paranaenses mostra que ela está é se transformando. “A direita brasileira em perspectiva histórica” fez um balanço da representação de partidos conservadores no Congresso desde 1945. E chegou a algumas conclusões. Por exemplo: os deputados de direita estão ficando mais velhos. Mas, mais importante, estão ficando mais urbanos.

O professor Adriano Codato, da UFPR, um dos autores do estudo, costuma dizer que está saindo do Congresso o típico fazendeiro de gravatinha borboleta. Em seu lugar, está entrando um tipo mais urbano: o pastor evangélico ligado a rádios, por exemplo. Está aí Marco Feliciano para mostrar em carne e osso o que os números significam. Ou alguém duvida que o pastor vai bater em um milhão de votos no ano que vem?

Se por um lado a vida do PT no Planalto fica mais fácil com ruralistas amigos e sem a direita fundiária, Codato diz que a presença dos pastores pode em certo sentido ser muito mais incômoda para Dilma e sua turma. “A direita do campo tem pouca representatividade para a maior parte da população. O que o fazendeiro diz interessa a menos gente. Em compensação, o que o pastor fala tem muito mais peso para uma parcela grande da população”, afirma.

O estudo não mostra, mas Codato comenta também uma “terceira direita” que está se fortalecendo no Brasil. É um grupo mais ideológico, ligado ao libertarianismo, que defende um Estado mínimo, menos impostos e uma postura mais liberal na economia. Para o professor, esse grupo se organizou para pensar: tem institutos e presença no mundo virtual, no mundo das ideias. “Mas como eles não têm partido, não têm representatividade, por enquanto tem pouco peso na política real”, afirma.

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