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Aprendi desde cedo, com meus pais, a não ser fanático por nada. Fanatismo, numa boa definição, é aquilo que nos leva a defender algo sem nem mais lembrar por quê. Esse é um risco grave que acontece com quem lida com política.

Nos últimos tempos, tenho me sentido aflito com um fenômeno novo da imprensa. é o que chamo de Reinaldo Azevedização do debate. É o radicalismo como método.

Reinaldo Azevedo, o blogueiro-panfletário da Veja, é, claro, um símbolo. Para ele, nada que venha do PT ou do governo Lula presta. E tuodo o que venha da oposição é bom. Por definição. Ponto. Os textos são exercícios que tentam justificar essa posição, e só.

Do outro lado, temos os jornalistas lulistas. Mino Carta e Paulo Henrique Amorim seriam seus símbolos. São igualmente partidários e parciais, só que para o outro lado.

Se Arthur Virgílio, amanhã, por alguma obra do destino, aderisse ao governo Lula, passaria a ser tratado como gênio pelos lulistas. E como pária por Reinaldo Azevedo.

Não há reflexão séria nesse jornalismo. Reproduz-se um único pensamento: Lula está sempre certo; ou, Lula está sempre errado.

Sou do tipo que gosta de pensar antes de falar. Não acho que haja governos inteiramernte maus, nem inteiramente bons. Defender um pensamento desse é tosco demais.

O fato é que o fenômeno, no Brasil, tem a ver com dois fatores. Um, o governo Lula. Dois, a era da internet. Os blogs facilitam que esse tipo de radical extravase, se estabeleça e crie público.

Quanto ao governo Lula. Não há como negar que se trata de um governo diferente e que, ao chegar ao poder, causou uma certa ruptura em relação aos governos anteriores. Fica a critério de cada um decidir se essa ruptura é boa ou ruim.

E a imprensa, que caminho tomou? Houve dois caminhos. Parte dos jornais, os jornais sérios, como essa Gazeta, continuou seu trabalho tranquilamente. Quando Lula acerta, mostra-se. Quando erra, mostra-se também. Seriedade, ponderação e inteligência.

Os melhores jornais são esses. Os que informam bem, sem radicalismos, sem posições de governismo burro ou de oposição a todo custo. São os que pensam e fazem pensar.

Há outro caminho, porém. E por ele andaram Veja e Carta Capital, só para ficar em dois símbolos. Essas publicações tomaram o caminho mais fácil do apedrejamento do inimigo. Mas que jornal ou revista deveria ter inimigos, para começar a conversa?

Até bem recentemente, o debate sobre esse quadro era miúdo, passava despercebido. Embora eu sempre tenha falado dele, aqui e no jornal impresso. Agora, veio à tona.

Veio à tona porque vivemos uma eleição. E porque o presidente Lula, do alto de sua popularidade, resolveu colocar o problema na roda. Do jeito errado, claro.

O presidente da República não tem o direito de ficar questionando “a imprensa”, genericamente, como se toda ela fosse uma coisa só. Eu não sou Reinaldo Azevedo. Nem Paulo Henrique Amorim. E sou imprensa.

Me sinto ofendido ao ser colocado numa posição que não é a minha. A minha paixão não é por um partido, nem por um político. É pela política e pela comunicação. E não aceito ver o presidente falando o contrário.

Lula merece, sim, ser criticado. E o manifesto feito ontem em São Paulo, embora, do meu ponto de vista tenha um vício de origem, por contar com inúmeras pessoas ligadas ao PSDB e a Fernando Henrique Cardoso, tem validade por mostrar esse e outros problemas.

E é claro que deve ser tolerado, também, que jornalistas e quem mais quiser vá às ruas para criticar a imprensa. Isso também é liberdade de expressão.

E esse é o ponto. Não concordo com a Veja, nem com a Carta Capital. Mas acho que elas têm o direito de existir e de publicar tudo o que quiserem, desde que respeitada a lei.

E não concordo com o exagero do manifesto “antimídia” planejado para hoje. Mas acho que ele tem todo o direito de ocorrer.

No entanto, se você abre um blog de um desses radicais, o que se vê não é uma discussão a sério sobre o tema. Não há ponderação. Há o adesismo a uma causa, e pronto.

E esse, do meu ponto de vista, tem sido o erro de certa parte da imprensa. Pensar que sua causa é defender o governo, ou o fim do governo. Quando, na verdade, a causa deve ser defender a sociedade.

Jornalista que está a serviço de alguém está contra o leitor. Assim como partido que está contra a imprensa está contra a informação.

Não consigo concordar com nenhum dos lados dessa história. E se o leitor não conseguir entender isso estará até me dando razão: o que se espera, afinal, é que se diga: fulano tem razão, o outro é estúpido.

Isso é tolice. Há um pouco de verdade em cada lado. E enquanto não aprendermos isso estaremos tornando nossa sociedade um pouco pior, mais dividida, com dois campos opostos querendo o fim do lado contrário.

Meus melhores amigos, às vezes, pensam de jeito completamente diferente do meu. E é por isso que preciso deles: para não virar o Reinaldo Azavedo ou o Paulo Henrique Amorim.

A última vez em que nossos país se dividiu tanto foi em 1964. Alguém quer isso de novo?

Sejamos inteligentes, mais do que partidários. E que o bom jornalismo, como o praticado por esta Gazeta, consiga derrotar os radicalismos dos dois lados.

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