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O mérito de Pedro Cardoso: fazer a coisa certa sem militância cega
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Pedro Cardoso de uma hora para outra virou o assunto de toda a Internet. O que quer dizer que ele virou o assunto de toda a classe média que mergulha diariamente nas suas bolhinhas de Facebook para saber o que pensar sobre política.

Embora seja um sujeito politizado, Pedro Cardoso não é o tipo de ator estridente que fica o tempo todo ditando regras, se metendo em política, militando. Sua proximidade maior com a política, curiosamente, é o fato de ser primo de Fernando Henrique Cardoso.

Mas é um sujeito que não foge ao debate. Mas não é ultrapartidário, nem do tipo que fica o tempo todo agarrado àqueles mesmos conceitos, um sujeito sem dimensões.

Recentemente, antes de virar o herói anti-Temer para a esquerda petista, foi usado como símbolo de uma disputa bem diferente – e praticamente pelo “outro lado”.

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Talvez seja ele o ator mais conhecido por se recusar a fazer cenas de nudez na tevê e no cinema. Diz que isso é pornô disfarçado. E no meio da disputa internética recente sobre QueerMuseu e o sujeito pelado no Museu de Arte Moderna, um vídeo em que ele explica isso foi repetido à exaustão, como argumento de quem é contra a nudez, digamos, “apelativa” nas artes.

No caso da aparição no Sem Censura, da EBC, que causou todo o alarde, vale dizer que ele não se posicionou a favor de Lula ou do PT. Não foi propriamente partidário. Mas simplesmente fez o óbvio: vendo que estava, sem querer, desrespeitando uma greve legítima em uma tevê comandada por alguém que deu declarações racistas, pediu o boné e foi embora.

A crítica ao governo Temer foi quase secundária, mas obviamente também importante. Em poucas palavras ele deixou claro que, na opinião dele, quem luta contra esse governo “provavelmente” está coberto de razão.

E este “provavelmente” é o bonito da coisa. Além de se pôr ao lado da causa que parece certa ele admitiu que é possível que esteja errado. Fez o que lhe pareceu certo porque os indícios de que o governo, a EBC e os patrões dos grevistas estão fazendo coisas muito erradas.

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Mas embora tenha tomado uma medida até drástica, e simbolicamente forte, não quis ser o dono da verdade.

Em uma entrevista recente à Mídia Ninja, fez uma declaração ainda mais interessante, no mesmo sentido. Disse que, ao ir à FliAraxá, onde lançou seu livro, foi parando o carro em postos de gasolina etc. E perguntou a dez pessoas em quem iriam votar. Foram nove votos em Lula e um em Bolsonaro.

Pedro Cardoso disse que tinha pensado em desistir de Lula, deixar de votar nele. Mas achou que essa “sabedoria popular” pode estar mais certa do que a “hesitação elitista” dele. Em resumo, ele tem dúvidas.

Ao invés de ser o sujeito histriônico que sua (não-)participação no Sem Censura fez parecer, Pedro Cardoso dá a impressão de ser aquilo que mais nos faz falta. Alguém que se informa, que quer fazer a coisa certa, mas que não fecha questão em tudo, ouve os outros, tem dúvidas.

Ter dúvidas é tão fundamental quanto ter posição. E o ator conseguiu fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Logicamente, para os petistas hoje o que importa foi sua posição contra Temer. Assim como para os conservadores o que importou foi sua posição contrária à nudez na tevê.

Mas talvez o mais importante sejam suas dúvidas.

Na mesma entrevista à Mídia Ninja ele critica Trump e congêneres exatamente por quererem “simplificar a vida”, que é um “fenômeno complexo”, evitando discussões, até nas escolas. Ele não quer fazer isso. E isso sim devia ser uma bela lição.

Só não façam dele o novo salvador da pátria, por favor. Deixe ele dar um bom exemplo e seguir cheio de boas perguntas. As respostas não é ele nem ninguém que deve dar.

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