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Da coluna Caixa Zero, publicada na Gazeta do Povo:

Os brasileiros poderiam estar livres de um perigo para sua saúde já neste mês. Mas o lobby dos fazendeiros produtores de tabaco da Região Sul do país vai fazer com que os fumantes corram um risco desnecessário por pelo menos mais um semestre. O caso tem a ver com os aditivos colocados no cigarro para torná-lo mais atraente. Sem eles, o fumante tem menos chance de morrer. Com eles, os plantadores ganham mais. Eis a questão.

A Anvisa realizou uma consulta pública sobre os aditivos dos cigarros. Até mesmo devido ao fato de o Brasil fazer parte de uma convenção que orientou todos os países a proibirem as adições, a ideia era ouvir os argumentos e, não ha­­­vendo nada absurdamente diferente sobre o tema (e nem teria como haver), a agência determinaria a proibição em território nacional.

Não seria pouca coisa. Sem a adição de açúcares, por exemplo, evita-se a produção de um cancerígeno no momento da queima do tabaco. Ou seja: proibindo algo simples assim, estariam sendo salvas vidas. Mas qual foi o artifício que os lobistas usaram para garantir que sua produção continuasse sendo escoada normalmente?

Simples: para evitar que o processo andasse, o pessoal do fumo decidiu apelar para métodos pouco ortodoxos. Atolou a Anvisa em papel. Mandou correspondências repetidas, no nome das mesmas pessoas e instituições, até encher as salas da agência. Foram, no total, mais de 180 mil “sugestões”. Na pressa, os lobistas chegaram a mandar 5 mil envelopes em branco.

O deputado federal Luís Carlos Heinze, do PP gaúcho, que se tornou uma espécie de comandante do batalhão pró-fumo no Congresso, seria um dos artífices da brilhante estratégia a favor dos cancerígenos. Partiram dele 165 mil das cartas. Pensando do ponto de vista dos fazendeiros, deu certo: sem funcionários suficientes para garantir a leitura de todos os papéis mais rapidamente, a agência já avisou que antes de dezembro não conseguirá encerrar a consulta pública.

Heinze afirma que a manutenção dos aditivos é importante para a economia dos estados do Sul. O cigarro tipo burley, que domina as plantações por aqui, é irritante demais se fumado sem os aditivos cancerígenos (lógico que o deputado evita usar essa palavra e inclusive contesta os estudos nesse sentido…). Ninguém iria querer fumar o tabaco desse gênero sem o gostinho do açúcar.

Curiosamente, um desavisado poderia pensar que ruim seria dar um gostinho agradável para algo que pode deixar doente e até matar… Mas não é assim que pensa a bancada ruralista dos estados do Sul.

Pelo contrário. Apro­­­vei­­­tando o tempo que ganharam com a estratégia de atolar a Anvisa em papéis inúteis, os deputados da região, incluindo paranaenses, já se mobilizaram para convencer politicamente o governo federal de que manter o burley aditivado é uma boa ideia.

Na época da consulta pública, os deputados marcaram uma reunião com Palocci para discutir o tema. Agora, isso de pouco adianta. Os lobbies de Palocci já não valem muita coisa. Será que sua substituta, a ministra Gleisi Hoffmann, se deixará convencer pelos argumentos? A ver.

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