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Por que a Folha errou ao contratar Reinaldo Azevedo?
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A Folha de S.Paulo acaba de anunciar, entre seus novos colunistas de política, o nome de Reinaldo Azevedo. Blogueiro de Veja, Azevedo escreverá semanalmente no jornal. Tido normalmente como o jornal mais à esquerda entre os três de circulação nacional, a Folha diz que a ideia é aumentar o pluralismo: Azevedo é um liberal de direita, e nunca escondeu isso.

Obviamente, num país em que há liberdade de expressão e de imprensa, como tem de ser, a Folha tem o direito de chamar quem quiser para comentar política. Nem precisa dar justificativas (como o pluralismo) para incluir ninguém em seus quadros. E pluralismo, claro, é bom para o leitor e para a sociedade. No entanto, a contratação de Azevedo me parece um erro. Explico.

É interessante para o jornal apresentar várias posições diferentes sobre política. Assim o leitor que se informa só com a Folha, se é que isso ainda existe, pode saber mais sobre o assunto sem ficar “viciado” em uma única visão. Esse é um problema de publicações como Veja e Carta Capital: sendo porta-vozes de grupos e partidos, não permitem o diálogo. Leitores de esquerda só leem a visão da esquerda. Os de direita, só leem o que escreve a direita. Ninguém fica sabendo de pontos de vista que contestem suas próprias posições. E o fanatismo vai se aprofundando.

Azevedo, em seu blog de Veja, cumpre esse papel. Inteligente, culto, articulado, faz a defesa de certos pontos de vista várias vezes ao dia. Seus textos são como circulares de um determinado grupo político. Ali estão os argumentos que devem ser usados em favor da causa comum de todos eles. E a causa, embora às vezes disfarçada de outros nomes, é a derrota eleitoral do PT e sua substituição no governo pelo PSDB e seus aliados.

Sempre em seus posts Azevedo faz questão de dizer que defende é a democracia, o Estado de Direito. Mas ao mesmo tempo não nega que vota no PSDB. Na eleição passada, chegou mesmo a divulgar seu voto para vereador num post que mais se parecia com propaganda eleitoral do que outra coisa. Até aí, estamos no pluralismo, ainda que panfletário. Mas o problema é outro.

Azevedo tem uma causa, e não a esconde. Desse ponto de vista, é intelectualmente honesto. Mas há outro ponto de vista do qual é intelectualmente desonesto. Posso resumir assim: de um jornalista, espera-se que tente descobrir fatos, e que o apreço pelos fatos esteja acima do apreço por uma causa. Veja bem: isso não quer dizer que jornalista não possa ter causas. O que não vale é distorcer fatos para defender algo. Ou, pior: usar pesos diferentes conforme quem seja o sujeito da frase.

Azevedo, assim, diz que seu interesse é respeitar a democracia e o Estado de Direito. Mas quando é o PSDB ou alguém ligado à sua causa que comete o desrespeito, seu papel não é o da crítica. É o do advogado. Arranja argumentos, políticos ou simplesmente retóricos, para isentar os seus dos mesmos erros que critica nos seus adversários.

Me lembro de um caso particular. Às vésperas da eleição de 2010, o TSE iria julgar quais documentos era preciso levar para poder votar. O PSDB queria a versão mais rígida da lei. O PT, a menos rigorosa. Assim, mais eleitores compareceriam, especialmente os mais pobres, que votavam mais em Dilma. Serra foi flagrado por uma repórter da Folha supostamente falando com Gilmar Mendes, ministro do Supremo, para pedir seu voto. Qual fio reação de Azevedo? “E daí se ligou?” Na opinião dele, havia ministros “petistas” no STF e Serra estaria cooptando apenas um dos 11 ministros. Nada demais.

É claro que era algo demais. Mas Azevedo disfarçou, engoliu seu suposto respeito pelas regras democráticas (que exigem independência de Poderes) e foi fundo para arranjar uma desculpa para Serra. Esse era e é seu verdadeiro interesse. Um jornalista deveria, em seu papel crítico, ser crítico com todos. Se defende o liberalismo, não há problemas. Mas que critique todos usando os mesmos critérios. O que não pode é a regra ser mais suave para uns e mais rigorosa para outros, só porque são amigos.

A Folha diz que convidou Azevedo para seus quadros em nome do pluralismo. Mas não terá um defensor de ideias escrevendo. Terá um defensor de uma candidatura. Não ganhou um jornalista, mas um panfletário. Não parece um bom caminho.

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