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Por que conseguimos fazer a Copa? E por que não fazemos o resto?
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Albari Rosa/Gazeta do Povo

Vai ter Copa. Aos trancos e barrancos, os governos, as prefeituras, as empresas, todo mundo fez pelo menos o mínimo necessário e o país está aparentemente em condições de não passar nenhum grande vexame no próximo mês. Se esse era seu medo, de os gringos nos acharem incapazes e inúteis, relaxe. Seus problemas acabaram. Teremos estádios, aeroportos e condições mínimas para atender a todos.

O que leva a um outro problema. Por que tudo (ou pelo menos o mínimo necessário) ficou pronto? A tradição de obras públicas no Brasil não é a do atraso, das obras inacabadas, dos aditivos que levam tudo para décadas adiante? Sem falar na judicialização que emperra licitações, no problema do Executivo de definir onde serão feitas as coisas, na lentidão do Legislativo em aprovar qualquer coisa. E licenciamento ambiental para todas essas obras? quando imaginaríamos que seria possível ter licenciamento mais ou menos rápido para tudo isso?

O mais otimista dos brasileiros, mesmo o que mais confia em nossas instituições, mesmo esse talvez tivesse dúvida de que sete anos, desde nossa escolha, eram suficientes. E quem diria que haveria dinheiro (estamos falando do dinheiro público) para tudo isso? O discurso normalmente não é de que falta grana para tudo, mesmo para o básico? Não vemos falta de salas de aula, de leitos, de tudo?

A pergunta então passa a ser: se obras importantes nunca são feitas, se mudanças fundamentais demoram décadas (ou séculos), se não há dinheiro para tanta coisa, por que foi possível organizar um torneio bilionário no país, com base em financiamento público em “apenas” sete anos?

A resposta possível parece ser apenas uma: houve vontade política para isso. Seja porque o futebol é a alma do país, porque sentimos uma compulsão em agradar os estrangeiros que viriam, seja porque acreditamos que seria uma honra receber um evento deste porte (e uma vergonha inaceitável falharmos aos olhos do mundo), seja por que for, o fato é que algo nos impeliu e as coisas, bem ou mal, aconteceram.

Algum cínico poderá dizer que foi a gana pelo lucro fácil, pela corrupção, que moveu os governos. Mas a possibilidade de fazer outras obras com a mesma finalidade está aí, e nem assim algumas outras obras com o mesmo “potencial de lucro” saíram do papel. O problema parece ser que, dessa vez, havia um prazo curto e nos vimos compelidos a fazer ou não fazer. E estávamos (sabe-se lá por quÊ!) resolvidos que faríamos…

Pelo lado positivo, isso mostra que as coisas podem sempre acontecer em terras brasileiras. Sempre cito (e continuarei citando) que fizemos Brasília em quatro anos, e que é possível fazer obras desse tipo se há interesse. A Copa só reforça essa tese. Pelo lado negativo, vemos que há outras coisas mais importantes para o país e que, por não haver os mesmos incentivos, são eternamente proteladas.

A Copa nos ensinará muitas coisas. Uma é essa: temos como fazer o que quisermos. Pode não sair do melhor jeito, claro. Mas fazemos. Basta vontade política e determinação. Para a Copa, não faltou. Faltará para o resto? Por quê?

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