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Roberto Requião tem se gabado de que não gasta dinheiro do governo com publicidade. Só o mínimo, para editais e coisas do gênero. Como contraponto, colocou um linque no site do governo para mostrar quanto seu antecessor, Jaime Lerner, gastou. Em valores corrigidos ultrapassaria R$ 1,4 bilhão.
Agora, os deputados estaduais ligados ao governador estão mudando o orçamento do governo para colocar R$ 30 milhões a mais no orçamento de 2008. Quem faz a articulação é o próprio líder de Requião na Assembléia, Luiz Cláudio Romanelli. O líder não faz muita coisa sem a ordem do governador. Portanto, não é absurdo imaginar que a ordem de reservar dinheiro para publicidade tenha partido do próprio Requião.
Hoje, na coluna de Celso Nascimento, na Gazeta do Povo, há uma declaração de Romanelli sobre o tema. Diz que a verba dos R$ 30 milhões é para “amolecer o coração duro dos patrões”. Ou seja: o governo quer “comprar” a boa vontade dos donos de jornal. Só essa declaração já era digna de um processo judicial.
Em outra declaração infeliz, na matéria da repórter Kátia Chagas, Romanelli diz que a verba sairá do aumento de impostos preparado pelo governo. Então é isso? Tasca-se imposto na população para elogiar o governo em jornais, revistas e televisões?
Mas, vamos além. Requião, que fala muito melhor do que seu líder trapalhão, tem insistido na tecla de que os jornais falam mal de seu governo porque ele não libera recursos de publicidade. É uma tese. Faz parte da teoria da conspiração de que o governador sempre precisou.
Requião, e essa é a minha tese, só sabe governar “contra” alguém. Agora, é contra a imprensa. Já foi governador contra o pedágio, contra os transgênicos. Mesmo no governo, e a frase é dele mesmo, de 15 anos atrás, ele continua sendo de oposição.
Agora, portanto, a imprensa. Fala mal porque perdeu verbas. A tese está para ser testada. Pelo que tudo indica, vai entrar dinheiro no caixa dos “patrões de coração duro”. E na minha modesta opinião, isso não vai mudar nada. Porque a tese de Requião está furada.
O cenário é mais complexo do que faz parecer o discurso de Requião. Na década passada, o Correio Braziliense descobriu o óbvio: que jornais regionais podem ser ousados. Sob a gestão de Ricardo Noblat, o jornal deixou de ser chapa-branca, enfrentou o governo Roriz, passou a escrever livremente. Resultado? Ganhou dezenas de prêmios, milhares de leitores e mais credibilidade do que qualquer outro do gênero no país.
A impressão que tenho é essa: de lá para cá, os grandes grupos regionais de comunicação descobriram que, muito mais do que agradar governos, vale agradar o leitor. Se você tiver anúncio governamental e não tiver quem leia, o negócio vai para o buraco de qualquer jeito. Portanto, esqueça de agradar o governo.
O novo jornalismo regional é necessariamente a favor do leitor. Se tiver que denunciar o governo, denuncia. Se tiver que criticar a prefeitura, critica. Se for o caso de cobrar atitudes dos próprios cidadãos, cobra.
Tendo bom conteúdo, certamente virão os leitores. E com eles, os anúncios. Essa é a fórmula.
Requião acredita que os governos ainda mandam nos jornais. Por isso, acha que basta liberar dinheiro e terá uma imprensa requianista. Com os jornais pequenos, isso pode funcionar. Com os jornais maiores, não mais.
Peço desculpas se me estendo, mas o assunto é importante e tem sido pouco tratado. O ponto é o seguinte: Requião nunca reclamou da imprensa em seu primeiro governo, de 1991 a 1994. Foi antes do Correio e antes de Noblat.
Agora, que os jornais são melhores e cobram mais, ele se incomoda. Assim como se incomoda com o Ministério Público. Como se incomoda com o único conselheiro do Tribunal de Contas que não é político de carreira. Como se incomoda, em resumo, com qualquer um que não está sob seu controle.
E, se tudo for como eu imagino, vai continuar se incomodando. A imprensa não vai mais virar governista em troca de verbas publicitárias. Nem agora, nem nunca mais.

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