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Que história é essa de eliminar o diferente?
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O país está tão virado do avesso que Reinaldo Azevedo agora parece um sujeito sensato, um moderado. Dia desses, em seu programa de rádio, falava sobre as frases de Bolsonaro e seus seguidores sobre acabar com a esquerda. E perguntou: mas querem os adversários fora do governo ou fora do país?

Sim, faz toda a diferença. Alternância de poder é o outro nome da democracia. Querer substituir “tudo isso que está aí” por outra coisa faz parte. É saudável. Querer eliminar o adversário, como por muitas vezes insinua o próprio presidenciável, é outra coisa bem diferente.

Em discurso para multidão na Avenida Paulista, no domingo passado, Bolsonaro basicamente falou que os “vermelhos” (sério, em 2018) ou se enquadram ou caem fora. Opa! Não é assim, claro. Assim como o governo de esquerda não enquadrou os direitistas nem expulsou ninguém, o capitão também está proibido de fazer isso.

O que produz uma democracia é justamente a tolerância com quem pensa diferente, com quem é diferente. Como diz Chantal Mouffe, uma democracia é um regime em que a cada vez que se precisa decidir algo, em vez de lutar com armas, luta-se com votos. E a beleza disso é que os derrotados sobrevivem.

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Expurgo é o nome que se dá quando o adversário é eliminado. Isso combina com o stalinismo, com o hitlerismo. Mas nunca com o Brasil do século 21. E o problema é muito maior ainda quando você pensa não em quem faz oposição política, mas sim em quem só quer viver a vida de seu jeito.

Porque o que transparece no discurso dos bolsonaristas não é apenas a vontade de se livrar dos “vermelhos”. É a vontade de se ver livre de uma vez de todo mundo que vive de uma maneira considerada imprópria por eles. Principalmente os que vivem uma vida considerada por eles como “impura”. Os gays, claro, são as vítimas preferenciais.

Se no caso dos opositores políticos você pode simplesmente retirá-los do poder (sem retirá-los do país) o que fazer com quem tem um tipo de vida considerado inadequado? Exigir que “se enquadre”? Que todo mundo aja igual, pense igual, tenha os mesmos desejos e necessidades?

E se essas pessoas não quiserem mudar? Ou, para ir um ponto além: e se não puderem mudar? E se aquilo for exatamente o que elas são, o que as define.

Não são só os gays. Há gente que traz a marca do preconceito na pele, como os negros; ou na fé, como os fiéis de crenças malvistas por muitos cristãos, como as religiões afro. Vão fechar o candomblé?

Uma democracia só é real se tem espaço para todos. É bom e até necessário que haja pluralidade de vidas: divergências de comportamento, oposição política, multiplicidade de etnias e de credos. Querer que o diferente seja posto para fora é o começo da ruína de qualquer país. Até porque, quem de nós é totalmente igual ao outro? E quem disse que a tua diferença não é a que vai ser posta em xeque amanhã?

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