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Racismo, machismo, pobreza: oito motivos para perceber que Copa e política têm tudo a ver
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Tem muita gente que acha que Copa do Mundo é um momento de escapismo – em que as pessoas deixam de pensar na vida para ficar simplesmente vegetando na frente da tevê ou sendo iludidas por um patriotismo tolo. Ok, a crítica é importante; mas também faz sentido lembrar que a Copa, assim como todo grande evento mundial, ajuda as pessoas a conhecerem o mundo e a pensarem sobre ele.

Nesta Copa, já houve discussões importantes sobre assédio e machismo, sobre racismo e pobreza, sobre igualdade de oportunidades. E sempre há muito mais a ser visto – as pessoas aprendem sobre outras culturas (ainda que superficialmente), ficam sabendo sobre a história de outros países e, por que não?, criam vínculos com os outros moradores de seu próprio pais.

1 – Assédio

Foi o caso mais evidente de discussão de assuntos políticos na Copa até agora. Graças principalmente a um grupo de brasileiros que decidiu fazer uma russa repetir palavras que ela não entendia – bom, todo mundo viu o vídeo. Os brasileiros foram devidamente execrados; não quer dizer que esse tipo de coisa vá deixar de acontecer, mas é mostrando o problema (e revelando para as pessoas que isso É UM PROBLEMA) que as coisas começam a mudar.

2 – Machismo

Não é uma repetição de tema, não. As mulheres não só são assediadas, como também são vistas como secundárias. Neste ano houve belas iniciativas, como uma emissora de tevê que passou a ter narradoras nos jogos – iniciativa inédita no país. Mas as repórteres de campo ainda sofrem; quase não há espaço para comentaristas mulheres. E, afinal, por que ninguém dá bola para a Copa do Mundo feminina? Ninguém fica nem sabendo que o torneio acontece…

3 – Pobreza

A história do belga Lukaku chamou a atenção nesta Copa. Mas esse é um tema que passa batido muitas vezes nas Copas. Mas basta ver que quase metade dos times do mundial vêm do continente mais rico (e um dos menores) do planeta para perceber que o futebol não é tão igualitário quanto se pose querer. A Escandinávia tem mais seleções na Copa atual do que a África subsaariana inteira. Há seleções que não jogam há anos por causa de países em guerra e miséria. Embora seja um esporte muito menos desigual do que outros, o futebol também revela as mazelas dos rincões do mundo.

4 – Racismo

A visibilidade que o mundial dá aos negros também é fundamental. Malcolm Gladwell diz que a vez em que ele se saiu melhor num teste que mede nosso “racismo oculto” foi num dia em que tinha passado assistindo as Olimpíadas. No futebol também funciona assim: ver Pelé ajudou o Brasil a se perceber como um país negro.

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5 – Desigualdade

Por que em outros lugares (empresas, universidade, política) a proporção de negros é tão menor do que na seleção de futebol? O verdadeiro espelho do que é o país está na escalação do time que vai à Copa. Jogar futebol é coisa que todo menino brasileiro faz, mesmo que só tenha um campinho mirrado de areia por perto. Talvez seja o caso mais real de “meritocracia” no país: os melhores seguem adiante, e não aqueles que são filhos do dono etc… Se o país fosse justo, haveria tantos CEOs negros quanto atacantes da seleção.

6 – Ditadura

O Brasil já viveu o drama de torcer (ou não) para a seleção sabendo que isso fortaleceria uma ditadura militar. Agora, discutimos a “ditadura branda” de Vladimir Putin.

7 – Direitos dos gays

Falando em Putin, a Copa nos lembra mais uma vez o absurdo que é a política de repressão que o governo russo impõe aos gays. Fazer “propaganda” de qualquer coisa que não seja a heterossexualidade é crime. A Olimpíada de Inverno em Sochi já trouxe o tema à baila, mas a Copa do Mundo é vista por muito mais gente. Tomara que ajude a fazer com que o país se abra para uma maior tolerância aos direitos das minorias.

8 – Geopolítica

O símbolo da águia albanesa feito pelos jogadores da Suíça vindos dos Bálcãs ao fazerem seus gols fez o mundo se lembrar da situação da região, especialmente do Kosovo. Não é a primeira nem a última vez que territórios e países subjugados e vítimas de violência usam eventos esportivos para expressar suas aflições diante dos olhos do mundo.

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