O discurso autocelebratório do governador Beto Richa (PSDB) sobre os resultados do “ajuste fiscal” feitos no início de seu segundo mandato fazem parecer que o governo tomou o único caminho possível para evitar o colapso financeiro do estado. Era isso ou o caos. Como prova, Richa, na manhã desta quinta-feira, voltou a mencionar estados que não estão cumprindo com seus compromissos financeiros.
O caso do Rio Grande do Sul é emblemático. O estado quebrou e só agora começa a ver a luz no fim do túnel depois de aprovar, também com certa tensão, um pacote de “medidas amargas”. Pelo que diz Richa ele teria sido apenas o primeiro a ver que isso seria necessário – um visionário, em certo sentido. Mas óbvio que não é assim.
As medidas tomadas por Richa não são apenas “impopulares”, ou “amargas”, como diz o governo. São temerárias. Primeiro, porque aumento de impostos em momento de crise financeira tem como efeito colateral a saída de dinheiro da economia justamente no momento em que ela precisa de incentivos. Comprar fica mais caro e as pessoas compram menos, movimentando menos o comércio, o que por sua vez prejudica a indústria etc.
Segundo porque o dinheiro que está financiando aquilo que o governo hoje considera conquistas é principalmente a poupança feita pelos paranaenses em governos anteriores. Dinheiro da previdência que deveria garantir a segurança de funcionários no futuro – e do caixa do estado na época em que nossos filhos estiverem pagando impostos. A economia está sendo drenada já, para pagar a conta de agora.
O discurso de que só havia dois caminhos depende de que se acredite que o governo subitamente descobriu, no breve período entre outubro e dezembro de 2014, que as coisas iam mal. Até outubro, Richa dizia que tudo era uma maravilha. Em dezembro, aumentou todos os impostos estaduais, passou a taxar aposentados e preparou o pacote de medidas enviado à Assembleia.
Obviamente as finanças não desmoronaram naqueles dois meses. Desde o início de 2014 sabia-se que o governo devia mais de R$ 1 bilhão a fornecedores. Os carros da polícia ficaram sem combustível. Oficinas deixaram de trabalhar para o governo. Os pagamentos para precatórios começaram a atrasar. O governo sabia disso. Poderia ter minimizado o prejuízo se tivesse agido antes. Não o fez por comodismo eleitoral.
As medidas ficaram para depois. E, como se sabe, em uma crise o tempo que se passa antes que se tome alguma medida só faz exigir que essas medixdas sejam mais drásticas. Fo o que aconteceu. Protelou-se por tanto tempo o ajuste que, quando ele veio, precisou ser feito de uma tacada só. E aí levou a população a, com justiça, questionar tudo aquilo.
Richa não deve sua baixa popularidade de hoje à austeridade de sua gestão. Deve-a, pelo contrário, à temeridade com que agiu até 2014 – sem falar, é claro, na viol~encia usada para resolver o problema depois.
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