O cenário que se arma para os próximos dias no Centro Cívico é o de uma batalha campal. Política sempre foi confronto, claro, entre lados opostos. Mas há modos e modos de lidar com isso. No Paraná, o modo clássico é fazer acordos entre os políticos profissionais, formando maiorias e esperando que o povão não ligue. Dessa vez, não deu certo.
Outro modo de lidar com a falta de consenso, na política, é a negociação. O governo evitou isso ao máximo. Tendo deteriorado suas contas a ponto de ter de passar o chapéu para pagar os servidores, o governo arriscou tudo em fevereiro. A ideia: aprovar tudo o mais rápido possível e esperar que o carnaval viesse para deixar tudo para trás. De novo, não funcionou.
Os projetos do governo eram tão esdrúxulos – cortando direitos básicos, colocando em risco a aposentadoria dos funcionários, obrigando o sujeito a passar por um calvário para conseguir um simples atestado – que provocaram a fúria de milhares. O resultado, sabe-se, foi a mais ridícula cena da política paranaense nas últimas décadas: deputados tendo de entrar na Assembleia em um camburão, só para terem de pedir clemência e permissão para sair horas depois. Sem votar nada.
Dessa vez, o governo até negociou. Os projetos foram suavizados – o que não quer dizer que sejam bons. Mas é tarde demais. Beto Richa criou uma situação em que, pela primeira vez desde a tentativa de venda da Copel, um governante local tem oposição. Como sempre, quando isso acontece, a oposição não vem dos deputados – fechar acordo com 54 pessoas é fácil, ainda mais quando se tem o caixa do estado na mão. Não, a oposição vem das ruas.
O governo dirá que os professores e os funcionários, que já anunciaram manifestações para os próximos dias e a retomada de uma greve, estão radicalizando. É verdade. Dirá que houve negociações. Não é mentira. Dirá que os professores têm ligações partidárias. Novamente, verdade. Mas nada disso tira deles o direito de serem contra os projetos e de se manifestarem para evitar a aprovação.
Sabe-se que, se depender apenas da oposição formal no plenário, nunca o governo perderá. Não se pode contar que políticos profissionais, que dependem de emendas e de obras no interior ´para sua reeleição, vão enfrentar o governo. Se os trabalhadores acham que estão sendo esbulhados, o mínimo direito que se pode garantir a eles é o de espernear.
Se isso está sendo comandado por partidos, é bom que fique claro. E faz todo o sentido: sabe-se das ligações da APP com o petismo. Mas em nenhum momento isso tira a legitimidade de um movimento. Os professores escolheram a diretoria que representa sua classe, e isso precisa ser tão respeitado quanto a eleição dos deputados pela população.
O ponto é: governo nenhum no Paraná se acostumou com a ideia de que às vezes terá oposição. Alguns, por não terem metido tanto os pés pelas mãos, conseguiram conviver apenas com a pacífica e domesticável oposição profissional. Outros, ao irem longe demais em seus projetos tiveram de se ver com a população. Richa entrou para esse time. Só tem a si mesmo para culpar.
Tivesse o governador evitado o buraco, tivesse gastado menos, dado reajustes dentro das possibilidades, admitido o problema antes da reeleição, tivesse cuidado melhor da receita (e da Receita) não precisaria agora enfrentar a fúria popular para salvar seu caixa.
A essa altura, só o que um governante pode fazer é tomar cuidado para não se afundar ainda mais: o risco de um confronto existe e colocaria o atual governo em situação ainda mais delicada. E, nesse caso, nem se aprova o pacote do desespero, nem se mantém a base parlamentar. Que os deputados podem ser muita coisa, mas estão longe de ser bobos.
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