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Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo.
Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo.| Foto:
Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo.

Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo.

Este é certamente o pior ano para a música clássica em Curitiba e no Paraná desde que o país voltou a ser uma democracia. Por ação e omissão dos gestores públicos que se sentam no 29 de Março e no Iguaçu, o ano começou com o cancelamento da Oficina de Música. Chega a fevereiro (e estamos apenas no segundo mês do ano) com o cancelamento das atividades da Orquestra Sinfônica e do Balé Guaíra.

O caso da Oficina de Música foi uma facada nas costas aplicada pelo novo prefeito, Rafael Greca. Dado a demonstrações (muitas vezes frívolas, muitas vezes falsas) de cultura, Greca agiu contra a oficina antes mesmo de se sentar no gabinete de prefeito. Disse que a prioridade era a saúde e que enquanto houvesse “dor em espaço público” de Curitiba, não haveria música na cidade. Disse que “essa cultura perversa” que tira dinheiro da saúde não era bem-vinda.

Tem todo o direito de pensar assim. Evidente que a saúde pública tem prioridade, e assim deve ser. Mas a tentativa de macular a oficina (“cultura perversa”) não tem nada a ver com o discurso de campanha, em que o prefeito dizia que sua função seria “educar” a cidade. Começou deseducando, dando a entender que cultura é algo ruim, que apenas consome recursos. Começou desmentindo a si mesmo.

Do outro lado da Praça Nossa Senhora de Salete o governante nunca fez o menor esforço para disfarçar sua falta de apreço pela cultura. Em duas sabatinas para a Gazeta do Povo – com quatro anos entre elas – deu o mesmo livro como seu favorito. Trata-se de “Os Quatro Compromissos”, uma bobagem que se autointitula “filosofia tolteca”, trazida à tona por um suposto xamã-médium mexicano. Autoajuda do pior tipo, com conselhos que nem mesmo uma revista de fofocas decente publicaria.

Não é de espantar que em seis anos Richa não tenha achado uma solução para o impasse da orquestra e do balé. Impasse criado pelo antecessor, Roberto Requião, que inventou cargos comissionados para funções que não poderiam ser pagas desse modo. A cultura foi tratada ao longo de vários governos como algo que pode ser driblado – na base da gambiarra. E agora a gambiarra termina – como toda solução mambembe deve terminar – com tudo dando errado.

Para Richa tanto faz. Só o que lhe interessa são votos, e não há votos na cultura. Para alguém que centra sua vida numa carreira eleitoral, uma orquestra é um peso morto. A única música que interessa é o jingle. Um corpo de baile passa a ser visto como uma inutilidade. De que interessa um balé para alguém que nunca foi visto em um teatro, nunca foi visto com um livro, que só se interessa por autódromos e viagens a Miami?

Evidente que o Estado bancar cultura não significa por si só que uma geração mais inteligente e melhor se seguirá. É um investimento que se faz em nome de tudo o que a música, as artes e a palavra podem trazer de bom para uma comunidade – em nome do desenvolvimento das pessoas como cidadãos e como seres humanos. Mas que não tem retorno certo. Nem numa comunidade, nem numa família.

José Richa foi o governador que criou a Orquestra Sinfônica do Paraná. Seu filho se tornou incapaz de compreender a grandeza desse gesto, e sob seu governo morre a orquestra, assim como morre o principal corpo de baile da cidade. Uma vergonha que ele jamais conseguirá entender em toda a sua dimensão.

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