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Teresa Urban sofreu para que não sofrêssemos
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ENTREVISTAS - SERIE ENTREVISTAS - TERESA URBAN- VIDA E CIDADANIA

A última vez em que falei com Teresa Urban foi em março de 2012. Liguei para ela por ter visto que ela estava defendendo que a Comissão da Verdade se dedicasse a verificar os abusos cometidos hoje pela polícia. Teresa foi presa e torturada durante a ditadura. Sabia o quanto era duro apanhar, não poder fazer nada, e ter de calar até a próxima surra.

Liguei para ela porque o menino Ismael, do Uberaba, havia sido brutalmente agredido pela PM durante a instalação da primeira UPS de Curitiba. O que me impressionava no que ela dizia era o altruísmo. Ela podia estar remoendo a tortura que sofreu, pedir para que a Comissão da Verdade punisse os crimes dos anos 60 e 70, se dedicando à causa própria. Teria direito, pelo que sofreu.

Mas a preocupação dela era de mostrar que outras pessoas, menos visíveis, porque mais pobres, continuavam sofrendo aqueles abusos. Como era na periferia, e não com militantes partidários de classe média, a tortura não causava impacto social. Mas ela achava que isso era o mais importante. Os abusos de hoje. As pessoas que apanham hoje. Cortar o mal da violência gratuita e arbitrária hoje.

Teresa, pelo pouco que conheci, era assim. Foi presa por acreditar que ninguém devia viver sob uma ditadura. Apanhou por defender uma causa. Quando saiu, e o país se tornou uma democracia, não aquietou. Passou a falar dos problemas ambientais. E manteve um olho nas ruas, nas pessoas.

Ela era o tipo de ativista de que mais precisamos. Se preocupava com as pessoas. Sofria com as pessoas. Sentia com as pessoas. Apanhava pelas pessoas. Chorava pelas pessoas. Gritava por elas. E nunca desistia.

Aprendeu política, viveu política, respirou política até o último dos seus dias, essa quarta-feira cinzenta de Curitiba em que nos deixou.

Fica a lição. E fica a lembrança. Teresa, vai em paz.

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