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Tese do “terceiro turno” faz certo sentido, mas não explica tudo
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protestoO governo Dilma tem se esforçado para dizer que os manifestantes que foram às ruas neste domingo não são eleitores da presidente. Na coletiva ocorrida logo após as passeatas, o ministro Miguel Rossetto chegou a dizer que o governo “acompanhou isso” – faltou alguém perguntar como: o governo colocou pesquisadores nas ruas?

A ideia, ao que parece, é ressaltar a ideia do “terceiro turno”. Ou seja: quem está protestando, basicamente, são eleitores de Aécio que não conseguem se conformar com a derrota nas urnas e que agora, como vingança, querem derrubar a presidente e convocar novas eleições.

Bom, primeiro, se o governo tem esses dados, deveria liberá-los. Até porque, se foi feita alguma pesquisa com verba pública, o público deveria se beneficiar dela. Ou foi o PT que fez? Ou ninguém fez e o ministro Rossetto estava apelando apenas ao bom e velho chutômetro?

Pelo chutômetro, a opinião de que se trata basicamente de eleitores de oposição faz sentido. Não só pela lógica eleitoral (dificilmente alguém em seis meses teria mudado de “eleitor da Dilma” para integrante do “Fora Dilma”) mas pelos números dos protestos. Foi evidente que os maiores protestos ocorreram justamente nas regiões em que os tucanos se deram melhor na eleição de outubro.

Mas não é possível fazer esse tipo de ilação tão simples. Não numa manifestação tão multifacetada quanto a deste domingo, que incluiu desde gente mais moderada até antidemocratas que pediam a volta dos militares. Nenhuma manifestação desse tamanho é monolítica.

A tese do “terceiro turno” é importante para o governo para tentar caracterizar que não se trata de uma manifestação contra a corrupção nos governo do PT, mas sim de um descontentamento de parte da população que nunca aceitou o petismo – na versão do governo, por preconceito. Admita-se desde já: esse preconceito realmente existiu e continua existindo. Mas será que dá conta de explicar tudo?

É evidente, no entanto, para qualquer um que tenha os olhos abertos, que não estamos falando só disso. Se fosse “só” isso, as manifestações poderiam ter ocorrido no mensalão; ou no segundo governo de Lula; ou em qualquer momento dos doze anos de poder do PT. Por que teriam esperado até agora, por mais de uma década, os pacientes revoltados antipetistas.

Não é só antipetismo o que está em jogo. Há pelo menos dois fatores em discussão e que têm makis relação com o desempenho do governo do PT do que com algum preconceito inicial com o partido. Um deles é a economia. O outro, a corrupção.

O governo sabe disso, e responde do seguinte modo. A economia é culpa do mundo, os Lehmann Brothers, do Obama e da crise do capitalismo. Faz sentido. Mas não desculpa alguns erros de condução da política econômica que o próprio governo se viu forçado a admitir recentemente. Seria justo dizer que, aqui, a culpa do governo é parcial, mas importante.

No caso da corrupção, a resposta é que o aumento foi da percepção da corrupção, já que o PT teria dado mais autonomia e condições à Polícia Federal e ao Ministério Público (o que é verdade). Mas isso não pode servir de desculpa para os fatos graves que se descobriram na Petrobras: ter permitido a investigação não equivale a uma carta de idoneidade independente do que se descubra.

No fundo, os petistas sabem que não é só raiva o que está nas ruas. E, se não fosse o governo deles, estariam fazendo o mesmo. Mas, claro, o governo está em seu papel ao tentar fazer o jogo. E tem razão em dizer que há, sim, muita gente que quer o PT fora do Planalto simplesmente porque não concorda com as políticas petistas – o que é o motivo errado para pedir o impeachment de alguém.

Como todo governo, o do PT também cometeu erros. Alguns mais graves, outros menos. Alguns propositais, outros involuntários e que fazem parte do jogo. Algumas coisas são são erro do ponto de vista de alguns, outras são inaceitáveis.

Do ponto de vista de quem quer o impeachment, trata-se de provar que a própria presidente teve participação nos erros inaceitáveis. Do ponto de vista de quem quer evitá-lo, o que interessa é mostrar que o motor das manifestações não tem nada com isso, e é simplesmente um tipo de ressentimento contra aquelas coisas que não são inaceitáveis, e que são simplesmente a escolha de uma forma de governar.

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