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Uma Comissão da Verdade para a nossa PM
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Uma das imagens que 2013 legará para a história do país aconteceu nas ruas de São Paulo. Um grupo de manifestantes (daqueles que se manifestavam aparentemente sem saber por que o faziam, em junho), via um ônibus lotado de policiais chegar até onde eles estavam. Sem se assustar ou correr, pois nada deviam, permaneceram ali, apenas com um grito de ordem. Repetiam o mantra “sem violência, sem violência”. Assim que os PMs desceram e se posicionaram, porém, voaram balas de borracha para cima do pessoal.

A truculência a polícia nunca foi tão evidente quanto neste ano, principalmente em razão das manifestações de junho. O motivo é que a violência policial, normalmente perpetrada na periferia, contra pobres, no escuro, longe das câmaras, ganhou o palco central: as maiores e mais iluminadas rusas, e a vítima com que o brasileiro médio mais se importa: o cidadão de classe média.

Manchetes como a deste domingo, da Gazeta do Povo, ajudam a manter o assunto, urgente há 40 anos, em pauta. A reportagem mostrou que a polícia paranaense mata uma pessoa a cada dois dias. Em alguns casos, pode se tratar de um criminoso que estava atirando contra a PM – uma situação em que o regimento permite que os policiais atirem para matar. Mas a história mostra que muitas vezes a situação é fraudada para que o confronto seja meramente simulado. Na lógica do “bandido bom é bandido morto”, muita gente é morta com bala na cabeça, na nuca e nas costas, sem se defender. Às vezes, já no camburão.

É claro que a polícia é necessária. E é claro que às vezes combater o crime não é tarefa das mais tranquilas: a repressão a criminosos violentos pode exigir tiros e tudo o mais. A maioria de nós não faz a mínima ideia do que seja entrar em zonas dominadas pelo crime a bordo de uma viatura. Mas logicamente há uma tradição de abuso dentro da PM que precisaria ser combatida pelos governantes. Mas todos eles, sem exceção, vêm se omitindo nesta tarefa.

A reportagem da Gazeta traz o depoimento de um PM contando tudo o que se sabe informalmente. Que os PMs matam desnecessariamente, que são criticados quando prendem e “poupam” o criminoso, que há maneiras de fingir que o assassinato foi feito dentro da lei e que essas maneiras são frequentemente usadas pela nossa polícia. Um descalabro. E,mesmo assim, como sempre, silêncio das autoridades.

A Comissão da Verdade para desmascarar criminosos da ditadura é tremendamente importante. No entanto, a jornalista Teresa Urban, grande perda dos curitibanos neste ano, dizia que uma Comissão da Verdade para apurar os crimes que o Estado comete hoje contra nossos cidadãos é ainda mais urgente. Dizia ela que as vítimas do DOPS e dos DOIs eram a chance que o Brasil teve de acabar com o histórico de tortura e violência das autoridades: como eram vítimas brancas e ricas, alguém se importava com elas. Mesmo assim, ninguém fez grandes coisas.

A ditadura acabou, e a violência continuou. Apenas voltou a ser praticada na periferia, contra pobres. Só que, agora, com a tecnologia que a militarização da polícia havia fornecido.

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