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“Vai pra Cuba” se tornou refrão num Brasil polarizado
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Meme de internet: os dois lados brincam com o refrão.

 

Em tempos de polarização ideológica, nenhuma frase foi tão simbólica da fúria da direita contra a esquerda brasileira. “Vai para Cuba” se tornou um refrão, um modo simples de dizer que a pessoa não quer saber de nada que possa se aproximar de um regime ditatorial de esquerda.

Nas redes sociais, foi quase impossível defender políticas de distribuição de renda, cotas para minorias ou alguma intervenção estatal sem ser mandado para Havana. Sem todos tivessem realmente ido, o pequeno país dos Castro teria ficado superlotado.

O “vai pra Cuba” chegou a criar um incidente diplomático durante um discurso de uma senadora do PCdoB. Das galerias, alguém soltou o refrão e parecia que a tinham chamado de “vagabunda”. Não era, embora para muita gente o resultado das duas frases fosse, na prática, o mesmo.

Cuba se tornou o símbolo latino-americano do que a esquerda pode produzir de pior. Um regime ditatorial, de partido único, em que não há eleições livres, a imprensa é reduzida unicamente a veículos estatais e não há liberdade para dissidentes. Nem sequer a liberdade para se sair do país.

Pior ainda: as prisões políticas não eram a forma mais grave de conter os dissidentes, que muitas vezes iam parar no “Paredón”. Ao longo dos anos, até mesmo antigos defensores do regime foram se afastando, principalmente depois do recrudescimento da violência contra dissidentes em 1993.

Mas isso não impediu que muita gente à esquerda continuasse vendo Cuba como um exemplo do que se pode conseguir fazer para eliminar a pobreza em um país de terceiro mundo. A frase mais citada como “antídoto” para o “vai para Cuba é do próprio governo socialista.

Um famoso cartaz em Havana dizia que em todo o mundo milhares de crianças passariam fome ou dormiriam com frio naquela noite. Nenhuma delas, falava o texto, era cubana.

As políticas de saúde do país de fato se tornaram exemplo mundial. O nível da educação básica, idem. O mesmo vale para a atenção aos esportes – é impressionante ver os resultados dos esportes de alto rendimento de uma ilha daquele tamanho, mesmo na comparação com gigantes.

Mas o que mais apaixonava a esquerda pró-Fidel era o fato de o governo socialista ter enfrentado desde o começo o poderio americano. O mito começa com a derrubada de Fulgencio Batista, um ditador que, como tantos na América Latina, tinha apoio do governo dos EUA.

Talvez um bom retrato do que a esquerda via em Cuba esteja no filme “O Poderoso Chefão 2”. O filme se passa em Cuba durante a revolução. Antes da chegada de Fidel ao poder, a máfia domina os cassinos. No momento da revolução, tudo muda repentinamente.
(Michael Corleone prevê a vitória da revolução ao ver um jovem revolucionário se autoimolar na rua: ninguém consegue parar algo que tem esse tipo de apoio, ele conclui.)

Com a ascensão do “Vai para Cuba” a refrão-mor da direita, jornalistas de esquerda começaram a criar brincadeiras. Como Gregório Duvivier, dublê de escritor e humorista, que começopu a listar persoanlidades que realmente foram até lá, de Obama ao Papa Francisco.

Curioso é ver que nenhum dos dois lados parece aceitar verdades bastante estabelecidas ditas pelo oponente. Assim como é inegável que Fidel foi um tirano, violento e cruel, é fato que o país conseguiu melhorias expressivas principalmente para a população mais pobre.

Uma coisa, obviamente, não perdoa a outra. Mas é preciso reconhecer que as duas existiram e que conviveram. Fidel não é Pol Pot (violência pura) nem foi um socialista moderado que trouxe benefícios democraticamente, como acontece em países nórdicos, por exemplo.

A melhor definição de seu governo talvez tenha sido dada por um taxista de Havana. À jornalista Marleth Silva, que visitava o país, ele disse: “Somos todos reféns dos sonhos de um homem”.

Agora, Fidel já não existe. Também já não existem seus sonhos. E é hora de o povo cubano viver outros sonhos.

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