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Querida Marisa,

O direito de ir e vir, garantido pela Constituição, virou mera ficção legislativa. Graças à incompetência das autoridades, nossa infra-estrutura de transportes chegou ao colapso. Estou me sentindo ilhada. Como ir a São Paulo visitar minha família? De carro tenho de enfrentar boa parte de pistas simples e a buraqueira sem-fim da BR-116. De avião, não tenho coragem. Como me arriscar a passar horas à espera de um vôo ou, pior, indo de um aeroporto ao outro?

Diante dessa situação patética, aplaudi a coragem de um amigo que saiu de Curitiba na tarde de sexta-feira para prestigiar dois dias de Jogos Pan-Americanos no Rio.
Sem encontrar passagem Curitiba—Rio no horário desejado, ele comprou um bilhete da Ocean Air para ir de Curitiba a Guarulhos, com escala em Foz do Iguaçu. De lá, se tudo desse certo, iria de táxi, bancado pela companhia aérea (assim lhe prometeram), até Congonhas, onde pegaria o vôo da Varig para o Rio.

Se tudo desse certo…
Ocorre que entre a demora para a partida em Curitiba e o atraso em Foz (tudo em decorrência do mau tempo e do fechamento de Congonhas), em vez de chegar a Guarulhos às 17h50, ele chegou às 22h. Perdeu, portanto, o vôo das 21h50, que, só para contrariar a lógica recente, saiu pontualmente de Congonhas.

Sem saber da partida e apostando em novo atraso, nosso herói ainda tentou pegar o vôo para o Rio. Descobriu que em vez do táxi prometido teria ir de ônibus de Guarulhos a Congonhas. Descobriu ainda que o ponto de partida do tal ônibus ficava longe do balcão de passageiros e que sua mala não estava, afinal, tão leve como ele imaginara. Depois de constatar que seu vôo havia partido, meu amigo foi até a Rodoviária do Tietê e, num ônibus interestadual, completou o trecho final da viagem de ida.

No Rio, conta ele, tudo correu às mil maravilhas. O sol brilhou, ele não foi assaltado e ainda teve oportunidade de ver os atletas brasileiros ganhando medalhas.
A alegria acabou na hora de voltar para casa. Não que ele estivesse com preguiça de voltar à rotina. Trabalhador como é, meu amigo planejava começara a trabalhar no início da tarde de segunda-feira. Para tanto, havia comprado um bilhete da Varig com previsão de chegada a Curitiba às 10h50.

Mas, novamente por conta da chuva em São Paulo e do conseqüente fechamento de Congonhas, o vôo partiu do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, às 8h40, uma hora depois do previsto. O pouso em Congonhas só ocorreu graças à habilidade do piloto, que aproveitou os raros 15 minutos de abertura da pista na manhã da última segunda-feira. Foi justamente a chuva incessante que impediu a decolagem para Curitiba. A certa altura, a Varig resolveu despachar os passageiros para Guarulhos. De lá, meu amigo conseguiu embarcar com horas de atraso no famoso Portão 17, uma sala de embarque triplo que ultimamente anda muitíssimo concorrida.

Seis horas depois do previsto, quase às 16h, meu amigo finalmente desembarcou são e salvo em Curitiba.
A vontade de ir ver os Jogos Pan-Americanos custaram-lhe mais do que ele esperava, tanto em dinheiro quanto em horas de lazer e trabalho.
É justo que seja assim?
É assim que esperamos atrair turistas estrangeiros?
Assim esperamos fazer nossa economia crescer?

Compreensivo, meu amigo disse que entendeu que os problemas foram decorrência do acidente em Congonhas. Mas, será que mais uma vez temos de ser compreensivos diante da incompetência da administração pública?
Não dá para dizer que a tragédia da TAM, de uma semana atrás, foi mera fatalidade. É um caso de desídia do qual todos somos vítimas.

Sem nenhuma compreensão e com muita impaciência, passo a palavra a você, Marisa.

Abraço,
Sandra

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