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Hoje é um desses dias pseudofestivos de que a imensa maior parte das pessoas nem fica sabendo: o Dia Internacional da Tolerância. Seria ótimo se o dia servisse para algo, como, por exemplo, levar a raciocinar um pouco sobre como a politização do termo “tolerância” acabou por fazê-lo significar praticamente o oposto do seu sentido original. Vamos ajudar um pouquinho nisso, então.

O sentido etimológico do termo é aguentar um peso, conseguir carregar uma carga pesada. Daí, por analogia, chegou-se ao seu sentido clássico nas línguas ocidentais: suportar algo de que não se gosta; não impedir algo errado, sem, contudo, deixar de condená-lo. Daí os bordéis serem também denominados “casas de tolerância”: a sociedade não impede seu funcionamento, mas tampouco os permite formalmente. Creio até que ainda sejam proibidos em lei.

Mas nas últimas pouquíssimas décadas – uma ou duas, se tanto, creio eu – a “tolerância” virou 180 graus. O que antes era um ato livre de quem tolerava passou a ser uma obrigação imposta por terceiros. O que antes significava suportar algo mau passou a significar aplaudir e achar maravilhosas as imoralidades e maluquices do momento na sociedade. A virada foi tamanha que há mesmo missionários da imoralidade dizendo que “a intolerância é intolerável”, ou seja, que é preciso obrigar todos, 100% da população, a abandonar tudo o que aprenderam de seus pais, e estes de seus avós, e por aí vai, ao longo de milênios de civilização.

Note-se que não se trata, em absoluto, de uma campanha em favor de uma tolerância universal, ainda que esta já fosse ruim o bastante. Afinal, por mais que a legislação penal brasileira pareça pensar assim, a convivência social com psicopatas assassinos, por exemplo, é bem difícil de tolerar. Não: trata-se da substituição da moral judaico-cristã por uma obra em progresso, em que hoje não se tem como saber qual será o bem e o mal amanhã. Hoje é bom – logo, intolerável a olhos progressistas que alguém não aplauda – que crianças cutuquem peladões em galerias de arte, que rapazes ponham vestidinhos e magicamente se vejam transformados em mocinhas etc. E amanhã? Basta perceber o quanto seriam quase imprevisíveis essas evoluções do movimento em prol da neotolerância que venho buscando apontar, e vemos a dificuldade de, no momento, apontar quais serão os comportamentos que daqui a coisa de dez anos serão necessariamente não só tolerados, mas neotolerados. Ou seja, daqui a dez anos ou coisa parecida será obrigatório aplaudir o quê? A pedofilia, necrofilia ou zoofilia? O vício em drogas? O suicídio, que em vários países da Europa já se tornou um pseudodireito, coberto pelo sistema estatal de saúde?

O mais triste e perigoso dessa neotolerância é exigir a substituição de um sistema ético e moral que funcionou, e funciona, ao longo de milênios, trocando-o pelos frutos de campanhas de propaganda bancadas com fartas verbas, mas que ninguém tem como saber aonde pretendem ir. O que se tem, na verdade, o que se está buscando, não é a aceitação social entusiástica deste ou daquele comportamento que de uns meses para cá devam ser neotolerados, mas a destruição deste sapientíssimo sistema moral multimilenar. As pessoas cujo comportamento passa a ser neotolerado, ou seja, de aplauso obrigatório, são apenas as buchas de canhão. Cada comportamento errado que passa a ser obrigatoriamente festejado tampouco é buscado como um fim em si, e é apenas depois que já se operou o fenômeno da neotolerância que se cria, a posteriori, uma narrativa de “lutas heroicas” por “direitos” em que convenientemente desaparece a súbita injeção de quantias bilionárias para forçar a sociedade a aplaudir o erro pouco antes de isto acontecer.

Em suma: não há – por mais que se crie a obrigação de aplaudir e celebrar todo tipo de barbaridade – um objetivo positivo definido. Não há nem sequer um plano absurdo para a construção de uma sociedade nova, com homens novos. A neotolerância tem apenas um objetivo negativo. Ela é um trabalho de sapa, de dissolução, que busca sabotar as células-base da sociedade: a família, as amizades e demais ligações pessoais. A tolerância, antes, era a maneira pela qual estas células, ao proteger seus membros, muitas vezes impediam que se cometessem injustiças. A neotolerância, pela sua universalidade e obrigatoriedade, serve, ao contrário, para impedir que as minorias sejam protegidas e, com o passar do tempo, coloca em perigo cada vez maior aqueles que são usados como buchas de canhão na dissolução da família. Com a família dissolvida, com a moral tradicional substituída por um mecanismo de perpétua destruição, a tolerância verdadeira tende a diminuir e desaparecer, sem que a obrigatoriedade da neotolerância tome seu lugar. Esta obrigatoriedade quer fazer com que a mídia, a polícia e o Judiciário façam as vezes do sistema moral tradicional. Isso simplesmente não tem como funcionar. Os megacapitalistas – George Soros, Mark Zuckerberg, Bill Gates e demais – que bancam o crescimento da neotolerância estão, na verdade, cortando as pernas do banquinho em que eles mesmos estão apoiados. E o que é pior, tanto para eles quanto para suas vítimas, é que ninguém mais saberá tolerar quando chegar a hora em que a sociedade venha a fazer justiça ou desmanchar-se completamente.

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