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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

É 18h45 de quinta-feira e parece que o Centro da Lapa já não existe comercialmente. Quase tudo está fechado e mesmo as casas parecem carentes de vida. Venta um pouco e duas meninas, talvez uns treze anos, passam por mim. Uma delas diz: “Credo, que homem estranho…”. Um mercado está aberto, mas desisto de entrar porque os mercados, assim como os shoppings, são inéditos apenas nos feriados, quando encontramos antepassados um pouco entristecidos. Toca “Highway To Hell” na academia e seis adolescentes conversam na esquina: “Vich… Tá começando a garoar”, comenta um deles, como se estivesse naquela esquina desde sempre.

13 de dezembro. O Restaurante Expedito receberá a banda Blindagem. A distribuidora de bebidas se chama Urso e, na fachada, um urso de camiseta verde, bebendo. Também vai ter Extreme Country Fest no próximo dia 6, com Paula & Pâmela + “DJ convidado tocando vários hits”. Na praça, um trio segue tocando clássicos do rock, enquanto um sujeito de camiseta do Real Madri de Kaká dá cambalhotas, em visível sinal de transtorno.

Uma placa diz: “A auto-escola não é mais aqui. Agora é a 300 metros, próximo da Academia do Betão”. Tem rapa-estoque na Seduziane Lingerie. A banda da praça toca “Don’t Let Me Down”, o que me entristece, e, enquanto paro para tomar um café na panificadora – deve ser o oitavo do dia –, começa a chover a valer.

Ouço uma moça dizer: “Por que chove tanto nessa cidade?” Fico com vontade de replicar: “E por que toca ‘Don’t Let Me Down’, minha querida? Por que?” Vai começar o filme de hoje. Hora de voltar ao teatro.

Ricardo Pozzo

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