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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

Sábado, indo para Cascanéia (SC), 5h20, ouvindo McFly. Isso mesmo. Os vizinhos me chamam porque o ônibus da excursão já está para chegar. Piso-me para fora de casa, está desanoitecendo e pergunto-me se decorei o nome dos quatro integrantes da banda. Ou são cinco?

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Quinta-feira, Livraria da Vila, Curitiba, 19h35, impressionado com o tanto de gente no lançamento do Livro dos Novos, da Travessa dos Editores. Se esse livro não fosse bom, isso aqui tava vazio (“e a mulherada tava em casa!”…). Ou temos muitos amigos mesmo.

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Três coisas importantes em nossa excursão: entre nós um sujeito apelidado Batidão – o organizador pede aos demais habitantes da região que tomem cuidado com seus documentos e pertences –, a outro chamam de Churrasco, às vezes Churrasquinho. Chamam-me Esquerdinha.

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Juro que não pretendo me ornar de corporativismo editorialista. É que às vezes me chateio afetivamente com as críticas que os veículos literários de Curitiba recebem por a) não apoiarem a literatura curitibana; b) usarem dinheiro público para publicar seus autores preferidos; c) recortarem sempre os mesmos autores em novas páginas. Bem, entenda, não estou invalidando as críticas. O que eu quero mesmo é dizer que estou feliz pelo editor e pelas vendas expressivas de hoje. O livro é bom? O livro é ruim? Quais foram os critérios? [Bom dizer que sou um dos integrantes da coletânea.] É difícil ser editor de palavras impressas, é difícil.

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7h40, quarta cerveja. Toca baixinho no ônibus Heart of Gold, do Neil Young. Estão todos, abaixo dos trinta anos, já razoavelmente bêbados, especialmente duas moças que, juntas, devem passar raspando dos trinta. Elas e mais dois rapazes mal-diagramados gritam “Vira! Vira!”. E eu estou envelhecendo, cansado, cavando e procurando por um coração de ouro. Rolando Pipoteca na faixa.

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Três momentos marcantes do lançamento. Eu reclamando em pronomes pouco lisonjeiros de uma moça presente, que me apaixonei e sumiu da minha vida sem maiores explicações, para uma das integrantes da coletânea – como se eu mesmo não fizesse isso com uma frequência religiosa.

Eis que a moça, pouco tempo depois, vem falar comigo. Continua belíssima e encantadora. Percebo, então, que os meus impropérios nem eram sólidos. Comento com a escritora da moça que eu disse ser antigamente apaixonado. Ela veio falar comigo. “Eu sei. É amiga minha…”

Revejo também uma moça que escrevi uma crônica em 2009 chamada Vestido Verde, numa oficina de Antônio Torres. Ela não mudou muito, mas nós sim. É até difícil de estabelecer uma ponte.

Recebo o livro para autografar das mãos dessa moça incrível. Penso no que posso escrever a ela que traduza em letra-mais-letra meus amores e a faça, quem sabe, daqui alguns anos, folhear este livro e ler a minha dedicatória com a sensação de que eu realmente gostava dela. Ela precisa ir porque tem prova. Talvez nos vejamos no bar depois.

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Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

Um comentário do vizinho de banco me comove. Ele repara que há alguém passando mal no banheiro e não é ele, o que considera uma vitória. Banheiro oficialmente interditado por motivo de:

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O lançamento termina. Vamos para o bar!

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Tenho estranha tendência a aceitar programas aleatórios, como este de se enfiar em piscinas e tobogãs num sábado de dezembro. Tenho medo de altura e de escadas – embora estas sejam de cimento, o que aumenta a segurança – e não sei nadar. Estou quase tendo quase câimbras emocionais e as horas não passam. Mas vi que tem uma quadra de futebol sintético.

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A moça da dedicatória chega e me avisa por telefone que o bar está fechado para quem quer entrar agora. Resolvo pagar a conta e ir até ela. Iremos para o Largo. O restante da noite não será contado porque tudo aconteceu muito rápido e não posso/não devo.

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Hora de voltar pra casa. Paramos na Banca do Bracinho, em Garuva, pra comprar mais cerveja. Estou me sentindo muito bem. Um amigo que está a 24 horas bebendo sem parar começa a repetir em alto volume, meio caindo, que o pessoal do ônibus é tudo puta e viado.

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Chego em casa e mando uma mensagem a ela dizendo que não morri e cheguei bem. Folheio o livro e me abate uma certa vontade de chorar, afinal, estou bêbado e sozinho e feliz, o que é bem permitido. O livro é lindo e a vida não é mar de sargaço.

 

 

 

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