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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

São quatro mesas de sinuca e uma moça em especial, que talvez não tenha 18 anos, mas dois celulares. Ela repara que a observo e me abate um certo constrangimento, pois se ela não tiver 18 anos, é muito errado ficar observando-a. Ela pega o copo de cerveja, bebe com pouca prática e me dá um estranho sorriso, como se dissesse o quanto é inatingível. Sua atitude me irrita um pouco, embora seja linda e jogue sinuca muito bem, mas sinto-me mais leve quando confiro a derrota de sua dupla.

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Chamamos a garçonete, uma morena (morena! Que palavra carregada de breguismos de toda espécie.) bem simples e encantadora. Queremos saber quanto custa a dose de conhaque. Ela morde a caneta e limpa a nossa mesa. Então diz um preço, até que aceitável. Enquanto ela se dirige ao balcão, eu e o amigo conferimos suas curvas. Ele especula que ela seja lésbica. Digo que me apaixonaria. A dose chega. Que conhaque ruim, meu deus!

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É 3h15 e começam a chegar pessoas do fim da balada próxima. Alguns entram no bar apenas para ir ao banheiro. Cinco mulheres e dois homens, sendo um deles de chapéu, pensam no que beber. Pedem tequila. Bebe! Bebe! Uma das moças, a menos bem-diagramada, me olha e, como sou um sujeito de alma quase comunista, retribuo o olhar, mas sem muita expressão. Então ela beija a amiga e dá um sorriso sem dono. Gosto muito desse bar.

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A mocinha que talvez tenha menos de 18 anos e dois celulares está ao telefone e quer saber onde a amiga está. Ela sabe que a acompanho e faz um pouco de cena, como se ligasse para o céu. O amigo está interessado na quase senhora de cabelos vermelhos e determinados atributos convincentes. A conta deu menos de quarenta reais e podemos pedir mais uma. A dupla que toca é excelente na arte de converter a canção original em algo tão próprio que quase indecifrável. “A paixão me pegou… Tentei escapar, não consegui…”. Pergunto ao Seu Júlio, um senhor que é meu vizinho e já deve ter bebido, na vida, mais do que a sede de um Saara, como se chama a moça – um pouco de camaradagem de minha parte chamá-la de moça – que joga sinuca sem os calçados.

Edivânia, se chama Edivânia.

Obrigado, Seu Júlio.

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Chego em casa e ouço Meu Mundo É Hoje antes de dormir. Acho que é Paulinho da Viola. Ou Wilson das Neves. Agora não sei.

Ricardo Pozzo

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