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500 Dias com Ela é uma história de desamor que apresenta um “novo” (anti) herói romântico
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Divulgação
Tom reafirma Joseph Gordon-Levitt como um dos melhores atores jovens da atualidade.

Há filmes que merecem um período de “metabolização” depois de serem vistos. Alguns, por serem densos, complexos e exigirem um maior esforço intelectual do espectador. Outros vão em outra direção, por uma via mais sensível. Parecem simples, mas demandam tempo para que produzam um impacto mais emocional. Esse é o caso de 500 Dias com Ela, em cartaz há algumas semanas na cidade.

Quando o vi pela primeira vez, gostei. Só isso. Mas admito que não estava muito no clima comédia romântica e perdi as entrelinhas, os significados menos óbvios embutidos na narrativa, com mais camadas do que pude perceber. Achei o roteiro formalmente bastante inventivo, ao quebrar a linearidade temporal e embaralhar os vários dias do caso de desamor entre Tom (Joseph Gordon-Levitt) e Summer (Zooey Deschanel).

Apenas quando o assisti de novo é que comecei a me dar conta que, sob a superfície de love story indie descolada, havia bem mais do que uma trama moderninha e uma boa trilha sonora.

Acho Tom um dos personagens masculinos mais interessantes dos últimos tempos. A sutileza de Gordon-Levitt (não deixem de ver o pertubador Mistérios da Carne, de Gregg Araki)e o ótimo roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber fazem dele uma figura ao mesmo tempo melancólica, patética e enigmática, porque também consegue ser sedutor.

Arquiteto frustrado, Tom trabalha como autor de texto para cartões (de aniversário, casamente, pêsames etc). É o que os americanos chamam de loser, um termo péssimo, eu sei. Leva uma vida morna, sem sobressaltos, até que conhece Summer, uma garota encantadora e independente que, como ele, gosta dos Smiths e o fascina de todas as formas possíveis.

Só que há um desequilíbrio entre o que Tom sente por Summer e o que ela desenvolve por ele. E o filme pretende, percorrendo a história dos dois, explicar o impacto dessa paixão que se prova unilateral na vida de Tom. O ponto de vista de Zooey, misteriosa e reservada, nos é sugerido por meio de pistas, nunca com um diagnóstico claro.

O que, com o passar do tempo, cresceu em mim foi a sensação de que o filme traz algo de novo: apresenta de forma nada maniqueísta o homem como elo mais fraco de uma relação matizada, não predatória, mas que o corrói emocionalmente aos poucos. A gente sabe que histórias como essa existem aos montes na vida real, mas não costumam povoar o cinema chamado mainstream, que parece ser feito por e para homens que (quase) sempre se dão bem.

Cotado para o Globo de Ouro, que será entregue no próximo domingo, e com fortes possibilidades de ser indicado ao Oscar de roteiro, 500 Dias com Ela é um filme que subestimei. Precisava admitir isso em público.

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