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Força-Tarefa é cinema na tevê aberta
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Divulgação/Rede Globo
O inspetor Wilson (Murilo Benício) é assombrado pelo fantasma de um ex-colega suicida.

Na virada da década de 1980, a Rede Globo lançou uma série que fez história. Chamava-se Plantão de Polícia e tinha como protagonista o repórter Waldomiro Pena (Hugo Carvana), que, nos derradeiros anos da ditadura militar, servia ao telespectador como uma espécie de guia pelo microcosmo da crônica policial. Entre o film noir e o cinema novo, o programa também dissecava, com suspense e picardia, o submundo do crime.

Passados 30 anos, chega à tela da mesma Globo um seriado promissor: Força-Tarefa (Quintas-feiras, depois de A Grande Família), retrato de uma divisão especial de Polícia Militar, encarregada de investigações que demandam faro, sangue frio e muita malícia. Não tem o humor carioca e pícaro de Plantão de Polícia. Nem poderia: os roteiros são assinados pelos escritores Marçal Aquino e Fernando Bonassi, autores cujas obras destilas, além de testosterona, angústia, pessimismo e crítica social — sem deixar de lado boas doses de cinismo e sarcasmo.

Aquino é autor dos scripts de títulos importantes do cinema brasileiro contemporâneo, como O Invasor e Os Matadores, de Beto Brant, e Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia. Bonassi é coautor do roteiro do grande Um Ceu de Estrelas, drama que antecipou, na década de 90, o Caso Eloá.

Murilo Benício, ator que viu sua carreira ressuscitar depois do êxito do personagem Dodi na novela A Favorita, é o tenente Wilson. Há nele ecos do capitão Nascimento (Wagner Moura) de Tropa de Elite: é um agente da lei estressado, deprimido e oprimido pela realidade que o cerca e invade sua privacidade. Para complicar, carrega a culpa pelo suicídio de um ex-colega que foi obrigado a prender por desvio de conduta e corrupção. Talvez por isso viva pela metade um relacionamento amoroso que não ata nem desata com a namorada, vivida pela talentosa (e sensual) atriz curitibana Fabiula Nascimento, de Estômago.

Os dois episódios até agora foram muito bons. Além das tramas, bem amarradas e sempre com desfechos surpreendentes, a complexidade dos personagens e, sobretudo, a ambientação sombria, construída a partir da subjetividade atormentada de
Wilson, têm feito toda a diferença.

Mais do que trazer à telinha uma (falsa) realidade de mocinhos e bandidos, Força-Tarefa está preocupada em humanizar a figura do tira. Além de Benício, têm destaque Milton Gonçalves, como o oficial responsável pela divisão de Wilson, e Hermila Guedes (do filme O Céu de Suely), uma policial dura na queda e algo andrógina que é só mistério e promete dar o que falar.

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