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Robin Hood não é “divertido”. Ainda bem!
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Divulgação
Russell Crowe é um Robin Hood mais velho, algo melancólico, mas viril até a medula.

O interessante de Robin Hood, novo longa-metragem de Ridley Scott que estreou na última sexta-feira, é que o filme não pretende ser “divertido”. Nega, assim, uma tendência nefasta que vem contaminando o cinema norte-americano mais e mais.

É uma história de aventuras? Sim. Tem elementos de épico histórico? Também. Mas por que então não é acelerado, recheado de piadas e efeitos especiais em 3D? Talvez porque, contrariando a imbecilização reinante na produção de entretenimento que se espalha por aí, a opção de Scott tenha sido por focar nos personagens e na trama.

É claro que nenhum filme que carregue o título de Robin Hood pode ser, digamos,complexo e cerebral demais – a excação talvez seja Robin and Marian (1976), com Sean Connery e Audrey Hepburn, já na meia-idade, nos papéis principais.

A versão 2010 da lendária história do ladrão-arqueiro que rouba dos ricos para ajudar os pobres se preocupa ao menos em tentar contextualizar a trama historicamente – na Inglaterra do século 12, quando o rei Ricardo Coração de Leão morre na França, enquanto saqueia castelos para enchers seus cofres vazios, e a coroa vai para na cabeça do irmão, o frívolo João. Eram tempos de extremas dificuldades para os súditos ingleses, que trabalhavam e produziam para manter uma monarquia falida e, com João no trono, ainda mais decadente e abusiva.

O longa de Ridley Scott também se ocupa de contar a origem de seu herói, cujo pai pedreiro foi morto quando Robin ainda era garoto, porque ousou questionar o estado coisas numa sociedade em que o povo nada podia frente à coroa. Russell Crowe, um dos melhores atores em atividade no mundo, compõe um herói complexo, já em seus 40 anos, algo angustiado e melancólico, mas ainda assim capaz de boas tiradas sarcásticas e viril até a medula. Mas não se trata aqui de uma virilidade anabolizada.

O colóquio amoroso entre Robin e ladu Marian (Cate Blanchett) é uma atração à parte. Há tensão sexual desde o primeiro encontro e a cena em que ela o despe – isso mesmo, é Robin quem tira a roupa para a câmera – é impagável. Porque não há aqui a ditadura estética imperante: nenhum dos dois é perfeito. Ele, apesar de musculoso, não esconde uma certa barriga. Ela, mesmo bela, tem rugas no rosto e nenhum vestígio de botóx, o que no século 12 seria no mínimo bizarro.

Robin Hood não é uma obra-prima, tampouco se situa entre os melhores filmes do diretor de Blade Runner, Alien – O 8.º Passageiro, Thelma & Louise e Gladiador. Mas é bom, tem ótimas cenas de ação e ousa ser sombrio quando a mídia impõe leveza e diversão a qualquer custo.

E um aviso importante: não saiam do cinema antes dos créditos finais, feitos em animação. São geniais. Depois me contem o que acharam.

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