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Tropa de Elite 2 metralhou Dona Flor. Por quê?
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Divulgação
Wagner Moura bateu Sonia Braga como o personagem de maior bilheteria do cinema brasileiro de todos os tempos.

Tropa de Elite 2 é o filme brasileiro mais visto nos cinemas de todos os tempos. Bateu nesta semana Dona Flor e Seus Dois Maridos, que desde 1976 reinava absoluto no topo da lista das maiores bilheterias nacionais.

Há que se levar em conta que o Brasil mudou muito nos últimos 34 anos, a começar pela maneira de fruição do cinema. Na segunda metade da década de 70, não havia videocassete nem tevê a cabo. Muito menos pirataria. Em compensação, o valor do ingresso era consideravelmente menor do que hoje. Menos da metade do preço atual.

Em pleno regime militar, comédias eróticas, sobretudo as pornochanchadas, faziam a festa nos cinemas. Mas é bom lembrar que também havia espaço para um cinema mais comprometido com a realidade: exemplo disso é o grande sucesso comercial de Lúcio Flávio, o Passageiro da Agoria, de 1977. Estrelado por Reginaldo Farias, o drama policial de Hector Babenco reconstitui a história real do “Bandido de Olhos Verdes”, que fez história nas páginas da imprensa popular do Rio de Janeiro.

O estrondo de Dona Flor, adaptação competente do livro de Jorge Amado, está, no entanto, mais ligado ao fenômeno televisivo que foi a versão para a tevê de Gabriela Cravo e Canela, outro romance popular de Amado, do que ao sucesso das pornochanchadas, hoje até ingênuas.

Marco da televisão brasileira, a novela Gabriela, escrita magistralmente por Walter George Durst e dirigida por Walter Avancini catapultou a maringaense Sonia Braga ao estrelato e ao posto de sex symbol número 1 do país. Nada mais natural, portanto, que ela fosse escalada para ser Dona Flor. José wilker, espetacular como o desinibido Vadinho, o marido morto-vivo da protagonista, também fizera sucesso em Gabriela, como o janota Mundinho Falcão.

Eram tempos ainda de liberação sexual, de desbunde. A libido do brasileiro estava em alta e, como temas políticos e sociais ainda passavam pelo crivo rigoroso da censura, Dona Flor, de um superjovem Bruno Barreto, foi um prato apetitoso e palatável para o público, que ainda curtia, a essa época, ver filmes brasileiros – a década seguinte seria mais sombria. E tinha uma “aura de cinema de qualidade”. Xica da Silva, A Dona do Lotação e Eu Te Amo, todos bem apimentados,porém com ambições estéticas consideráveis,levaram milhões às salas de exibição.

Passadas mais de três décadas, o Brasil é outro. O que será que explica o estrondoso êxito de Tropa de Elite, um filme que não tem sexo nem nudez? A indignação da população com o estado de coisas no país? Ou a espetacularização da violência, que teria virado o “erotismo” dos dias atuais, deixando a garotada excitada na base dos tiros e nos sacos plásticos na cabeça?

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