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A derrocada do império americano
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Todos os impérios acabaram por desabar. Roma, Grécia, Espanha, França, China e muitos outros entraram em decadência e terminaram em ruína. Uns duraram longos períodos, outros menos. O império Persa, terra do hoje temido presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, há cerca de 500 anos antes de Cristo abrangia o mar Cáspio, o mar Negro, o Cáucaso, grande parte do Mediterrâneo oriental, os desertos da África e da Arábia, o golfo Pérsico e chegava à Índia. E um dia foi à lona.

No nosso tempo, muitos viram ruir o império soviético. E agora há quem conte os dias para o fim do império norte-americano, considerado o mais forte e mais abrangente que a história já conheceu.

Em 2003, o historiador e demógrafo francês Emmanuel Todd lançou um livro intrigante. Em Depois do Império Todd traça um quadro realista de uma grande nação cuja potência foi incontestável, mas cujo declínio parece irreversível. Para ele, os Estados Unidos foram indispensáveis ao equilíbrio do mundo, mas hoje não podem mais manter seu nível de vida sem os subsídios internacionais. Na avaliação do historiador, a luta contra o terrorismo, o Iraque e o “eixo do mal”, tudo não é mais que pretexto. Sem força para controlar atores econômicos e estratégicos do porte da União Européia, Rússia, Japão e China, os Estados Unidos serão em breve apenas mais uma grande potência entre outras.

“Quando se olha para os indicadores, salta aos olhos a velocidade com que regride o poderio econômico americano. Veja-se o enorme déficit comercial deles. A classe dirigente americana, para fazer o mundo esquecer a crise interna, ativa o último domínio da preeminência americana: o militar. Um dia a Guerra do Iraque será classificada pelos historiadores como a última etapa da história do império americano”, prevê.

A tese do fim do império norte-americano também é defendida pelo historiador Eric Hobsbawm, autor de importantes obras como A Era das Revoluções, Era do Capital, A Era dos Impérios e Era dos Extremos. “O império norte-americano não permanecerá, entre outras razões, por questões internas. A maior parte dos norte-americanos não quer saber de imperialismo e sim de sua economia interna, que tem mostrado fragilidades. Logo os projetos de dominação mundial terão de dar lugar a preocupações econômicas. E os outros países, se não podem conter os EUA, têm de acreditar que é possível tentar reeducá-los”, diz Hobsbawm.

Mais recentemente, o sociólogo holandês Jan Nedeerveen Pieterse, que mora nos EUA desde 2001 e dá aulas na Universidade da Califórnia, lançou um livro contundente. Em O Fim do Império Americano, lançado no Brasil pela Geração Editorial, Pieterse vai fundo na análise dos motivos que levarão a potência do Norte à queda.

O sociólogo holandês se baseia em dados como a dívida pública trilionária e gastos exorbitantes em poderio militar. Pieterse mostra como a superpotência vive há 35 anos sob o poder conservador dos republicanos do Sul e dos interesses financeiros e do petróleo, uma das causas das guerras que buscam território a ser conquistado, por seus recursos naturais. E expõe um quadro de declínio social: mais e mais apropriações de imóveis, crises familiares devido à falta de cobertura de saúde, um maior número de sem-tetos, de presos (2,4 milhões), de menos ingressantes nas universidades e mais desabamentos de pontes.

Alguns números citados por Pieterse chamam atenção. Os EUA gastaram US$ 396 bilhões em despesas militares em 2003, e, de lá para cá, os gastos foram aumentando ano a ano. Em 2008 o orçamento militar ultrapassou, pela primeira, a marca de US$ 1 trilhão. Esse valor representa mais da metade do PIB brasileiro e supera a soma dos orçamentos militares de todos os outros países do planeta.

Em 2006, o país de Obama gastou 41% dos impostos arrecadados com militarismo. Os programas sociais ficaram com apenas 5% e ciência, energia e meio ambiente, 2%. Desse jeito, não é difícil prever a queda do império. A não ser que os EUA façam valer a sua força ao resto do mundo para manter seus privilégios.

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