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FIAT CÉSIO

como aura divina os lábios azuis-claros resplandecem
a radioatividade do cérebro e do lixo
apagando o vermelho intenso do coração
beijam sentidos calcificados que se derramam em baba
balbuciam inaudíveis, autômatos de pilha falha
o frio da solidão se intensifica
e os corpos se aproximam uns dos outros
em busca de um calor inexistente
aumentam a luz dos novos cogumelos simbólicos
que se amontoam como o lixo aos cantos
meninos e meninas sentem náusea física da infância
vão perdendo com dor os belos dedos acesos pela luz
definham como a carga de uma bateria e vão morrendo
urrando luz com olhar de ovários arrancados
com tez iluminada de azul celeste
angelicalmente estáticos e passivos
como se assistissem a tevê no domingo em preto e branco

AMAZÔNIA
in memoriam

descansa em paz
no chão
e nos móveis da sala

RUÍNAS DA LUA

deixaram jipes
representando estática
suvenires tolos como
moedas que não circulam
uma pena de ganso
e uma bola de golfe

rastros de bota
bandeiras monótonas

e um inútil nome de mulher
escrito e inalterado eternamente
como as crateras
permanece na poeira
onde o mar não chega

BUCÓLICA

como o homem
as formigas cortadeiras
trabalham sem parar

alimentam-se da paisagem

cortam todas as folhas
e as levam em pedaços
deixando brancos
como quadros tirados da parede

espantos brancos

como o ninho de folhas
que fermenta e alveja
para alimentá-las

Os poemas são do livro Os mortos na sala de jantar, publicado em 2007 pela Realejo Livros & Edições, de Santos, e foi premiado para publicação pela Secretaria de Estado da Cultura/Programa de Ação Cultural/Governo do Estado de São Paulo.

Quem é
Ademir Demarchi nasceu em Maringá-PR em 1960 e mora em Santos há 17 anos. Com doutorado em literatura brasileira, atuou como editor da revista de poesia BABEL, até recentemente uma das mais importantes publicações de poesia do país, com 6 edições no formato livro, lançadas de 2000 a 2004. Publicou, entre outros livros, Os mortos na sala de jantar (poemas, Realejo Livros & Edições, 2007) e Passagens – Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná (com 26 poetas, 424 páginas, Curitiba: Imprensa Oficial do PR, 2002. Tem numerosos poemas, artigos e ensaios publicados em jornais e revistas impressos (Jornal do Brasil/Idéias, Coyote, Medusa, Oroboro, Rascunho etc) e em sites na internet como Gérmina, Agulha, Tanto e Cronópios.

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