Cinema drive-in ressurge em todo o mundo com a pandemia

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Parece aquela história do filme ‘De Volta para o Futuro’, produção de 1985 que conta a história de um adolescente que volta 30 anos no tempo, até 1955, e conhece seus futuros pais quando estes eram jovens. A pandemia de coronavírus está fazendo muita gente que adora cinema revisitar passado.

Um sucesso por mais de cinco décadas – principalmente entre os anos de 1930 e 1960 – e que praticamente desapareceu a partir dos anos de 1970 ressurgiu em meio à pandemia de covid-19. Em várias cidades do planeta as pessoas estão encontrando nos cines drive-in um jeito de se divertir ao ar livre (dentro dos seus carros, claro) sem romper o distanciamento social.

O ‘revival’ dos cinemas drive-in oferece uma chance para momentos de nostalgia a muita gente que nasceu antes dos anos 60 e que não ia a um drive-in há décadas. E é uma ‘novidade’ para a turma da geração X e da virada do milênio – muitos nunca viram um filme em tela grande de dentro do carro, ao ar livre.

Nesta segunda-feira (4), os moradores da Praia Grande, no litoral de São Paulo, poderão voltar a ver filmes na tela grande com a abertura de um cinema drive-In. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a rede de cinemas Cinesystem e o Litoral Plaza Shopping e busca oferecer um entretenimento em família durante a pandemia. A orientação é que dentro dos carros estejam apenas familiares e pessoas que já estão em contato durante todo o período de distanciamento social e que residam na mesma casa.

Em Brasília, o Cine Drive-in – que em 2018 se tornou Patrimônio Cultural e Material do Distrito Federal – foi fechado em 20 de março por causa da pandemia. Na última terça-feira (28), porém, o governo do Distrito Federal autorizou a reabertura do espaço. As sessões contam com, no máximo, 200 carros, havendo um espaçamento de uma vaga entre eles para garantir o distanciamento social.

Os cinemas drive-in na Praia Grande e em Brasília retratam o que está acontecendo em várias outras cidades do planeta. Na Europa, a capital da Lituânia (Vilnius) decidiu ocupar com filmes o ‘deserto’ que se tornou o aeroporto da cidade após o cancelamento de quase todos os voos. O aeroporto virou palco a céu aberto do Festival Internacional de Cinema de Vilnius. Medidas de distanciamento social foram tomadas para que os veículos sejam estacionados a pelo menos dois metros de distância, com um máximo de duas pessoas por carro.

Na Alemanha, os cinemas drive-in do país que abrem durante todo o ano esgotaram todas as exibições desde que o país entrou em confinamento no início de março. Em 6 de abril, o drive-in de Essen vendeu em poucas horas 500 ingressos para Manta Manta, uma comédia alemã que foi um grande sucesso em 1991.

O Loe Studios, um cinema independente na cidade alemã de Marl, encontrou um terreno aberto atrás de um bar de motoqueiros e colocou uma tela. A noite de abertura do dia 6 de abril – com O Rei Leão e Parasita – também esgotou rapidamente. A empresa de eventos D.Live transformou um parque de estacionamento ao lado do centro de exposições de Dusseldorf em um cinema drive-in. Na estreia, em 8 de abril, os ingressos esgotaram em pouco tempo.

Os operadores de drive-in na Alemanha seguem com rigor as regras para garantir o distanciamento social. “Máximo de 2 pessoas por carro + filhos próprios até 14 anos. Em caso de não observância, temos que recusar a admissão! Só podemos digitalizar o ingresso eletrônico no local com a janela do carro fechada”, estabelece, por exemplo, o drive-in de Essen em sua página na internet.

Nos Estados Unidos, depois do fechamento de quase todos os espaços drive-in, os governos locais estão autorizando a reabertura. E o público vem crescendo. A associação de proprietários de cinemas drive-in (Uditoa, na sigla em inglês), disse que o renascimento dos cinemas drive-in está aumentando em todo o país com medidas de segurança para evitar a transmissão do vírus.

Na Ásia, os drive-in também são opção para quem busca entretenimento fora de casa, mas com segurança de não se contaminar. Na Coréia do Sul houve aumento nos negócios de cinemas drive-in desde que o país intensificou suas medidas de coronavírus em fevereiro, fechando os cinemas regulares. O Jayuro Drive-in, localizado no subúrbio de Seul, registrou um aumento de 30% nas vendas de ingressos.

Como em outros países, os cinemas drive-in foram montados em parques públicos e estacionamentos em toda a Coréia do Sul. O distrito de Nowon, no leste de Seul, por exemplo, montou tela em um parque local exibe filmes antigos gratuitamente. Oh Seung-Rok, prefeito do distrito de Nowon, sugeriu que os cidadãos locais aproveitassem os cinemas drive-in da cidade para aliviar o "sofrimento emocional" causado pelas medidas de quarentena e de distanciamento social.

Auge e queda do cinema drive-in

Os cines drive-in são uma espécie de cinema onde se assiste ao filme dentro do carro. O som é normalmente transmitido através do rádio do automóvel ou por caixas de som. A popularização dos drive-in teve início nos anos de 1920, nos Estados Unidos, com filmes mudos. Logo tornaram-se um entretenimento popular de verão.

A partir da década de 1940 houve uma explosão dos cines drive-in em vários países – impulsionados principalmente pelo fácil acesso aos automóveis –, atingindo o pico no final dos anos 50 e início dos 60. Em 1958 existiam mais de 4 mil cinemas drive-in só nos Estados Unidos, espalhados por todos os estados.

Nessa época, um cinema drive-in em Copiague, Nova York – o Johnny All-Weather Drive-In – tinha capacidade para 2,5 mil veículos. Havia restaurante de serviço completo e um sistema de bonde para levar crianças e adultos a um playground.

O declínio dos cines drive-in veio no comecinho dos anos de 1970, afetados pelas melhorias e mudanças no entretenimento doméstico, com o surgimento sequente das TV a cores, videocassetes, locadoras de vídeo e TV a cabo.

Célio Martins

Célio Martins é jornalista e escritor. Atuou em vários veículos de comunicação brasileiros, como Folha de S. Paulo, Folha de Londrina, O Estado do Paraná, Correio do Estado (MS), TV Iguaçu (SBT), Rede CNT e TV Campo Grande (SBT). Na Gazeta do Povo passou pelas editorias de Esportes, Curitiba, Paraná, Brasil, Mundo e foi editor da Primeira Página do jornal impresso. É autor e editor do blog Certas Palavras, com publicações nas áreas de política, meio ambiente, cultura e cotidiano. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.

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