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Elon Musk muda de lado na política
| Foto: Divulgação/Flickr

Elon Musk conquistou a simpatia de ambientalistas mundo afora por impulsionar a indústria de carros elétricos e defender o fim dos veículos movidos a combustível fóssil. Também encantou muita gente ao aquecer o mercado de painéis solares e apresentar telhados solares com visual idêntico ao de telhados convencionais. No último sábado (30), se tornou o primeiro empresário a colocar no espaço um foguete tripulado.

Essas são algumas das peripécias do dono da fábrica que virou símbolo de carros elétricos, a Tesla, e da SpaceX, indústria aeroespacial fabricante da nave Dragon Crew, que no domingo (31) chegou à Estação Espacial Internacional (ISS) com dois astronautas da Nasa a bordo. Musk, um imigrante sul-africano, ficou bilionário e hoje é uma das celebridades das redes sociais.

Admirado no mundo geek (fãs de tecnologia) e nos espaços high-tech, com milhões de seguidores considerados progressistas por seu discurso em defesa de um mundo ecologicamente sustentável e do progresso da ciência, Musk declarou em agosto do ano passado apoio à candidatura de Andrew Yang nas prévias do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump. “Eu apoio Yang”, disparou no Twitter para em sequência dar suporte à campanha do democrata.

Filho de imigrantes de Taiwan nascido no estado de Nova York, Yang integra o que chamam de ala ‘progressista moderna’ do Partido Democrata. Uma de suas propostas de campanha, por exemplo, era o "Dividendo da Liberdade", uma renda básica universal (UBI) de US $ 1.000 (mais de R$ 5 mil, em valores atuais) por mês para cada adulto americano. Outro exemplo: no último dia 30 ele postou nas redes sociais foto de um manifestante com uma foto de George Floyd – homem negro assassinado na semana passada por um policial branco em Minneapolis, nos EUA – com a frase “Que nossa tristeza nos leve a mudar”.

Elon Musk torna-se o primeiro empresário e enviar uma nave tripulada ao espaço
Elon Musk tornou-se o primeiro empresário e enviar uma nave tripulada ao espaço.| Joe Raedle/Getty Images/AFP

Pandemia foi o ponto de virada de Elon Musk

A posição progressista do ‘gênio louco’ dos investimentos em economia verde sofreu uma reviravolta a partir da decretação da pandemia de covid-19, que já matou mais de 100 mil pessoas nos Estados Unidos. Em poucos dias o bilionário tornou-se uma das principais vozes, ao lado de Trump, contra a política de distanciamento social para impedir a disseminação do novo coronavírus. O pano de fundo da ira do empresário contra as medidas para conter a pandemia foi o fechamento da fábrica da Tesla em Alameda County, na Califórnia.

O empresário declarou que as medidas de distanciamento social adotadas pelo governo californiano eram "fascistas". No dia 29 de abril ele tuitou: "Liberte a América agora". E ameaçou transferir a fábrica para o Texas, governado pelo republicano Greg Abbott, que já havia decretado a reabertura das indústrias.

A pressão não parou aí. Em 11 de maio, Musk anunciou que promoveria a desobediência de milhares de trabalhadores à quarentena imposta pelas autoridades da Califórnia: "A Tesla está reiniciando a produção hoje contra as regras de Alameda County. Estarei na linha (de produção) com todo mundo. Se alguém for preso, peço que seja apenas eu", escreveu no Twitter.

A revolta teve respaldo imediato de Trump. “Libertem a Tesla agora”, declarou o presidente norte-americano em apoio ao empresário. No sábado (30), os dois estavam lado a lado no lançamento da nave espacial da SpaceX, mostrando um ‘novo Musk’, bem diferente daquele que declarou em 2016 que Trump não tinha “o tipo de personalidade que refletia bem os Estados Unidos".

Modelos de carros elétricos da Tesla.
Modelos de carros elétricos da Tesla.| Divulgação/Tesla

A campanha pela reabertura dos negócios não é a única bandeira empunhada recentemente por Musk que vai ao encontro das posições de Trump. Ainda no começo da pandemia ele passou a defender fervorosamente o medicamento cloroquina – bandeira de Trump e do presidente brasileiro Jair Bolsonaro – para combater o coronavírus.

Depois de classificar o pânico em relação ao coronavírus de "estúpido", afirmar que "o temor causará mais perdas do que o próprio vírus" e que “tomar cloroquina é melhor que nada”, o empresário publicou nas redes sociais a frase que decepcionou de vez os progressistas: “Tomei a pílula vermelha”. O post de Musk foi logo compartilhado pela filha de Trump, Ivanka Trump, com um replique: "Tomado".

A expressão ‘tomar a pílula vermelha’ é uma referência a uma cena do filme Matrix, em que o protagonista tem de escolher entre a cápsula azul, para viver preso em um mundo de ilusões, ou a vermelha, o que lhe permitiria a revelação da verdade sobre a Matrix. No ambiente radicalizado da política americana, "tomar a pílula vermelha" representa um posicionamento em favor de Trump e de setores da direita norte-americana.

Mas como partiu de Musk, a dúvida não poderia deixar de existir. Ao lado da frase polêmica ele publicou imagem da rosa-símbolo do trabalhismo e da social democracia na Europa, na América Latina e também nos Estados Unidos.

Com o aceno à direita, o bilionário vem recebendo uma tempestade de críticas de setores progressistas. Muitos questionam se o interesse do empresário não está agora somente voltado às suas empresas e com os bilhões de dólares que recebem em investimentos e benefícios fiscais do governo. Mas, em contrapartida, ele também arrebanhou milhões de novos seguidores, alinhados com a direita norte-americana.

Telhado solar lançado por Musk imita telhado tradicional.
Telhado solar lançado por Musk imita telhado tradicional.

Aproximação com Bolsonaro

Musk também tem dado passos rápidos na aproximação com o governo de Jair Bolsonaro. Em jogo está a possível construção de uma fábrica da Tesla no Brasil. "Em março estarei nos Estados Unidos. Em nossa extensa agenda a possibilidade da Tesla no Brasil", escreveu Bolsonaro no Twitter em 21 de fevereiro, antes da decretação da pandemia.

A fábrica seria instalada em Santa Catarina, que já tem um projeto de lei pronto para dar isenção fiscal a Tesla. Apesar das declarações de Bolsonaro, em Brasília não há confirmação oficial de negociações entre o governo e a empresa multinacional.

Musk também teria interesse na base de Alcântara. A SpaceX espera tirar proveito do acordo de salvaguardas tecnológicas firmado entre Brasil e Estados Unidos e lançar foguetes a partir do Maranhão. Governo e empresa não confirmam oficialmente negociações.

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