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Gabriel García Márquez e a prostituição infantil
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Divulgação

Poucos entenderam essa. Depois de cinco anos do lançamento de Memórias de Minhas Putas Tristes, seu autor, o Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, está sendo denunciado pela ONG Coalizão Regional Contra o Tráfico de Mulheres e Meninas na América Latina e Caribe (CATW-LAC) por apologia à prostituição infantil.

A ONG acusa o escritor de, ao ceder os direitos do livro para o cinema – o filme começa a ser rodado em breve–, “massificar a mensagem e reivindicar poeticamente como natural essa atividade (a prostituição), o que leva à normalização do fenômeno e o faz ser considerado lícito”.

Se alguém tem dúvida, pergunte ao Gabriel García Márquez o que ele pensa sobre prostituição infantil. Por suas declarações sobre vários outros temos, certamente ele dirá que é inaceitável socialmente.

O romance narra a vida de um homem de 90 anos que decide presentear-se com uma noite de sexo com uma adolescente de 14 anos. Essa história, em livro de ficção, não pode ser confundida com apologia à prostituição infantil, um crime que deve ser punido com todo o rigor da lei.
Se fosse para condenar García Márquez por sua obra, todos os que escrevem sobre assassinatos, roubos, drogas e outros crimes também teriam de ser punidos.

A Literatura é uma representação da realidade. E a realidade tem dessas perversões: homens com 80/90 anos que sonham fazer sexo com uma adolescente. Em vez de ser considerado uma apologia à prostituição infantil, o livro pode ser uma denúncia de costumes impregnados na sociedade.

Memórias e Minhas Putas Tristes é uma obra inferior de Gabriel García Márquez se comparado com Cem Anos de Solidão, obra que marcou uma nova época na literatura mundial e um dos maiores romances do século 20. Para um leitor que nunca leu García Márquez eu diria “não perca tempo com Memórias de Minhas Putas Tristes”. O escritor tem obras muito mais interessantes, como O Outono do Patriarca, Crônica de Uma Morte Anunciada e Ninguém Escreve ao Coronel.

O filme será dirigido pelo dinamarquês Henning Carlsen, e protagonizado pelo ator mexicano Damián Alcázar. No Brasil, o livro foi traduzido por Eric Nepomuceno.

Trecho de Memórias de Minhas Putas Tristes

“No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver. Era um pouco mais nova que eu, e não sabia dela fazia tantos anos que podia muito bem estar morta. Mas no primeiro toque reconheci a voz no telefone e disparei sem preâmbulos:

— É hoje.

Ela suspirou: Ai, meu sábio triste, você desaparece vinte anos e volta só para pedir o impossível. Recobrou em seguida o domínio de sua arte e me ofereceu meia dúzia de opções deleitáveis, mas com um senão: eram todas usadas. Insisti que não, que tinha de ser donzela e para aquela noite. Ela perguntou alarmada: Mas o que é que você está querendo provar a si mesmo? Nada, respondi, machucado onde mais doía, sei muito bem o que posso e o que não posso. Ela disse impassível que os sábios sabem de tudo, mas não tudo: Virgens sobrando neste mundo só os do seu signo, dos nascidos em agosto. Por que não encomendou com mais tempo? A inspiração não avisa, respondi. Mas talvez espere, disse ela, sempre mais sabichona que qualquer homem, e me pediu nem que fossem dois dias para revirar o mercado a fundo. Eu repliquei a sério que numa questão dessas, e na minha idade, cada hora é um ano. Então não tem jeito, disse ela sem o menor fiapo de dúvida, mas não importa, assim é mais emocionante, merda, deixa que eu telefono em uma hora.”

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