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Essa violência sem controle seria suficiente para admitir que a sociedade brasileira vai mal. Em outros países, como os Estados Unidos, que não são exemplos de tranquilidade, ainda se pode frequentar cinemas de rua, as casas não têm muros e grades e os carros podem pousar do lado de fora. Mas estamos falando de violência e não de revolta social.

Quando falamos em degradação da sociedade, a evidência mais clara de que construímos uma nação que precisa corrigir seus rumos são as reações aos “rolezinhos” dos jovens da periferia nos shoppings das principais cidades brasileiras.

Um desses rolezinhos chegou a reunir 6 mil jovens, demonstração inequívoca de que não são organizados por bandidos, vagabundos ou desajustados como acusam alguns analistas, jornalistas e até mesmo autoridades. São jovens de famílias simples, trabalhadoras, que estão protestando.

Os participantes são claros nos seus objetivos: “zoar, pegar geral, se divertir, sem roubos ou violência”. Traduzindo, trata-se de um protesto social.

Os rolezinhos se espalham por todo o país. Aqui no Paraná, por exemplo, jovens de Cascavel marcaram um megaencontro no Lago Municipal com tereré, narguilé, violão, comida e skate. E lá atrás, em 2008, um shopping de Curitiba decidiu impedir a entrada de jovens dos bairros periféricos em suas instalações.

Embora os shoppings sejam espaço privado, a escolha desses locais para os rolezinhos é uma demonstração de que uma parte da juventude brasileira está insatisfeita. Afinal, os shoppings representam a parcela da população com maior acesso a bens de consumo. Vândalos sempre vão se infiltrar em manifestações populares e precisam ser controlados, mas os atos de uma minoria não justificam classificar toda essa massa de jovens da periferia de criminosa.

Como bem descreveu a Folha de S. Paulo em editorial do dia 2 de janeiro, os rolezinhos “são sinais de algo nada novo: as imensas desigualdades de renda do país criam formas de segregação espacial, e áreas privadas, como os shopping centers, substituem, por razões de segurança e de pasteurização social, lugares tradicionais do convívio público, como ruas e praças”.

Acrescenta-se a essa percepção da realidade brasileira a ausência de políticas públicas para incluir a juventude das classes de menor poder aquisitivo. Muitos adolescentes participantes dos rolezinhos estão se preparando para ingressar na faculdade, mas se sentem discriminados, segregados em bairros sem nenhuma estrutura, com raras opções de lazer e cultura. Soma-se ainda a esse quadro os péssimos exemplos das elites política e econômica, envolvidas em corrupção, sem falar da inversão de valores em que para ganhar dinheiro e subir na vida basta ser “esperto”. O rolezinho simboliza uma resposta à ostentação, ao egoísmo e à discriminação racial contra a maioria pobre de pardos, negros e índios.

A repressão e a violência policial contra rolezinhos pacíficos confirmam a discriminação. Condenar manifestações sociais fere a democracia. A sociedade deve fazer um novo pacto de convivência. E para esse grande acordo da nação serão necessárias iniciativas concretas de inclusão social, de solidariedade, igualdade de direitos e justiça. Do contrário viveremos um eterno apartheid.

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