O distanciamento social imposto pela pandemia de coronavírus fechou os palcos do teatro e da música, as grandes telas do cinema e as portas dos museus em todo o mundo. Afastados do calor humano dos shows, músicos dos mais variados estilos abriram suas casas e suas vozes em ‘lives’ pela internet. Agora, algumas estrelas internacionais estão dando um novo tom para reencontrar os fãs com apresentações drive-in, mesmo que estes tenham que ficar dentro dos seus carros.
Os shows drive-in, com pessoas socialmente distantes em seus carros, estão surgindo em partes nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia depois de mais de dois meses de silêncio da música ao ar livre.
Uma das primeiras experiências de shows no novo formato – em tempos de pandemia – aconteceu na Dinamarca. Em abril, o cantor e compositor Mads Langer tocou para um público que se distanciava socialmente dentro de seus carros em um palco drive-in erguido na segunda maior cidade do país, Aarhus.
O show foi um sucesso. Durante a apresentação de Mads, em vez de aplaudir com as mãos ou outros gestos, os fãs demonstraram sua gratidão tocando a buzina e usando os limpadores de para-brisa. "No começo, parecia extremamente estranho. Percebi no palco que estava tocando para quatro pessoas vezes 500, em vez de 2 mil pessoas", brincou Mads depois da experiência.
Nos Estados Unidos, um dos primeiros concertos drive-in em plena pandemia ocorreu em meados de março, no estacionamento de um supermercado de Los Angeles. O evento foi co-organizado pela estação de rádio on-line Dublab, e os músicos locais se revezaram.
No dia 14 de maio a estrela country Keith Urban fez um show surpresa em um drive-in nos arredores de Nashville. A apresentação de Urban foi em homenagem aos profissionais de saúde que lutam no combate à pandemia do novo coronavírus. Médicos, enfermeiros, técnicos de emergência médica e funcionários de instituições de saúde entraram em seus carros e lotaram o cinema Stardust Drive-In.
"Para todos vocês aqui esta noite, por tudo o que fizeram e continuam a fazer, a todas as suas famílias, agradecemos – este show é para todos vocês", disse Urban à plateia fechada em seus automóveis.
Na Noruega, a banda de hip hop Klovner I Kamp se apresentou para um público dentro de carros com uma vaga de estacionamento de distância. Luzes, fumaça e telão lembravam os grandes concertos ao ar livre que eram comuns antes da pandemia.
No embalo dos shows drive-in, o músico eletrônico Marc Rebillet planejou uma turnê por cinco cidades dos EUA agora em junho. Os ingressos serão mais caros que em apresentações tradicionais, que geralmente custam de US$ 15 a US$ 25. Na turnê drive-in de Rebillet os ingressos vão custar US$ 50 por pessoa.
O rapper D-Nice comemorou após o sucesso de um show drive-in em Miami, organizado pelo The Roots. As receitas do evento foram para a First Children Responders Foundation, uma fundação que fornece apoio financeiro para as crianças que perderam os pais, bem como para as famílias que enfrentam dificuldades financeiras significativas devido a circunstâncias trágicas.
Na Ásia, alguns países também estão buscando alternativos para não deixar o show parar. Na Coreia do Sul, por exemplo, a iniciativa conta com apoio de grandes empresas. A Hyundai organizou no final de maio o evento 'Stage X Drive-in Concert' em um local perto da Hyundai Motorstudio Goyang, nos arredores de Seul. Com 300 carros por dia, o evento de três dias permitiu que milhares de pessoas assistissem a apresentações de música ao vivo a uma distância social segura em seus carros. Havia inúmeras medidas em vigor, com cuidadosa consideração pela segurança, de acordo com as diretrizes do governo.
O novo formato de shows pode ser uma saída para a crise do setor. A Live Nation Entertainment, gigante do mundo de shows em vários países, especialmente nos Estados Unidos, registrou uma queda de 25% na receita de shows no primeiro trimestre de 2020. E a previsão é que, se nada mudar, no segundo trimestre a queda pode chegar a 100%.
Para aliviar, a empresa anunciou uma série de shows chamados "Drive-In Live", uma turnê com vários artistas por quatro cidades dinamarquesas durante o verão no hemisfério norte. Cada show drive-in acomodará 600 carros, com ingressos cobrados por carro e até cinco pessoas por veículo.
Um dos problemas para a organização dos shows drive-in é a falta de grandes espaços para abrigar centenas de veículos. Também há resistência dos frequentadores habituais de shows musicais. Uma pesquisa realizada pela agência de marketing Seerendipity, divulgada pela Bloomberg, mostrou que 38% dos participantes anteriores entrevistados do Made Events disseram que não compareceriam a um evento de música drive-in.
"Nosso objetivo final é conectar fãs com artistas", disse à revista Rolling Stone o presidente da Live Nation nos EUA, Tom Roll.
A perspectiva é que que grandes espaços de concertos e festivais de música estejam entre as últimas fases da recuperação, devido aos riscos de reunir multidões, principalmente em ambientes fechados.
A ideia inovadora dos drive-in cria uma chance de diversão para uma temporada de verão enfadonha no hemisfério norte devido a pandemia. E é uma esperança de alguma receita em um período particularmente seco em 2020 para artistas e a indústria dos shows musicais.
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