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Único escravo no Brasil a escrever autobiografia ganha site de memórias
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Historiadores brasileiros e canadenses lançaram o site do Projeto Baquaqua, que busca recuperar as memórias de Mahommah Gardo Baquaqua, o único negro escravizado no Brasil que escreveu e publicou uma autobiografia.

O site, que leva o nome Projeto Baquaqua, feito em parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade York, do Canadá, além de mostrar a trajetória pessoal de Baquaqua, tem como objetivo debater a escravidão e o abolicionismo no Brasil e na América do Norte.

O livro, publicado em inglês em 1854, está em fase final de tradução para o português pelo historiador e consultor de estudos afro-brasileiros da Unesco Bruno Véras e deverá ser publicado em 2016, com apoio do Ministério da Cultura e do Consulado do Canadá.

A obra An interesting narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua (Uma narrativa interessante. Biografia de Mahommah G. Baquaqua”, na tradução do inglês) revela detalhes da passagem dele por Pernambuco e registra as atrocidades da escravidão no Brasil.

A apresentação do site ficou a cargo de Véras e Paul Lovejoy, Professor na York University, Canadá. Veja o texto dos dois professores:

“Ele nasceu livre. Mahommah Gardo Baquaqua, como muitos outros africanos escravizados nas Américas, teve uma cidade natal, uma família e em alguma parte de sua juventude sofreu com a violência da guerra. Ele foi escravizado e exportado através do porto de escravos mais importante na África Ocidental, o porto de Uidá (Whydah) no reino de Dahomey. Foi então enviado para o Brasil em um tumbeiro (navio negreiro) e descarregado em uma praia no norte de Pernambuco em 1845. Naquela época, o comércio transatlântico de escravos já era proibido no Brasil. Logo, por lei, sua condição de escravo já seria ilegal.

Baquaqua foi primeiro escravo de um padeiro em Pernambuco. Depois de tentar tirar sua própria vida ele foi vendido para um capitão de navio no Rio de Janeiro, com o qual viajou ao longo da costa brasileira, especialmente ao Rio Grande do Sul. Durante uma viagem a Nova York em 1847, ele foi capaz de escapar da escravidão, morando posteriormente dois anos no Haiti durante uma época de turbulência política. Sob a proteção da American Baptist Free Mission Society ele voltou para os Estados Unidos da América no final de 1849 para se inscrever no New York Central College em McGrawville, onde estudou entre 1850-53.

Como membro de uma família muçulmana na África, Baquaqua aprendeu a escrever em árabe e ajami. No Brasil ele aprendeu português, assim como um pouco de francês e créole haitiano durante os dois anos que passou no Haiti. Em Nova York ele aprendeu inglês o suficiente para ler e escrever cartas, quando em 1854 publicou sua autobiografia em Detroit com a ajuda de seu editor Samuel Moore.

No período em que escreveu sua biografia, Baquaqua estava morando em Chatham, Canada West (Ontário) que na época era um dos principais terminais da Underground Railroad dos EUA. No início de 1855, seis meses após a publicação de “An Interesting Narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua”, ele se mudou para a Grã-Bretanha onde permaneceu até pelo menos 1857. Nós não sabemos o que aconteceu com Baquaqua depois daquele ano. Em algumas cartas ele havia revelado seus planos de voltar à África. Sua volta para Lagos ou o delta do Níger parece possível.

O relato das memórias de M. G. Baquaqua é particularmente importante como fonte para entender a diáspora africana nas Américas e, especialmente, o Brasil onde é um das poucas de tais narrativas. Tal como outros escritos biográficos, este relato permite a seus leitores ver o indivíduo para além do escravizado e do contexto da escravidão, possibilitando assim a construção de empatias e identificações pessoais.

Bruno Véras e Paul Lovejoy”

Projeto também conta com livro ilustrado com uma série de atividades (pintura, recorte-cole, caça-palavras e desenho) sobre a história de Baquaqua e da diáspora africana nas Américas.

Projeto também conta com livro ilustrado com uma série de atividades (pintura, recorte-cole, caça-palavras e desenho) sobre a história de Baquaqua e da diáspora africana nas Américas.

Além do professor Bruno Véras, o site conta com uma equipe de pesquisadores e técnicos:

Bruno Véras

Historiador, doutorando na York University em Toronto. Foi consultor de Estudos Afrobrasileiros da UNESCO/FUNDAJ e trabalhou como professor do Ensino Básico muitos anos em Pernambuco. Diretor, roteirista e produtor de conteúdo audiovisual, especificamente de documentários. Coordena o Projeto Baquaqua.

Denizá Barbosa Rodrigues

Formado como professor de história (FFPNM-UPE) e especialista em Gestão Cultural (FUNDAJ/UFBA), tenho atuado na área de pesquisa, sobretudo ligada a atividades de Formação Cultural e patrimônio. Atualmente trabalho como gestor público da Secretaria de Cultura do Estado, além de atuar como fotógrafo, videomaker e produtor cultural.

Ednaldo Francisco do Carmo Jr.

Graduando em História, UFPE. Gerencia o conteúdo do site e redes sociais do Projeto Baquaqua.

Nielson Rosa Bezerra

É Historiador, Dir. Acadêmico da FEUDUC; Dir.de Pesquisa do Museu Vivo do São Bento; Professor do Departamento de Formação de Professores (FEBF/UERJ). Especialista em escravidão africana no Rio de Janeiro e Baixada Fluminense.

Paul E. Lovejoy

Professor na York University, Canadá. Estuda a História da África Islâmica, Diáspora africana e biografias, com destaque para M. G. Baquaqua. É editor do Harriet Tubman Series on the African Diaspora, Africa World Press e tem 35 livros publicados.

Tatiane Lima

Designer e ilustradora, formada em design gráfico pela Unijorge-Ba. Transitou em áreas de atuação no design como branding, motion graphics e ilustração. Atualmente trabalha com desenvolvimento de interfaces de aplicativos. Responsável pela criação da identidade visual e aplicação em peças gráficas e virtuais e ilustração do livro.

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