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Deltan Dallagnol foi chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba entre 2014 e 2020 e deputado federal mais votado do Paraná em 2022.
O ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Podemos-PR).| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo.

Chegamos a outro nível. Não basta cancelar palestras em universidade por discordância, agora isso é possível até mesmo em palestra sobre liberdade de expressão. O ocorrido na Universidade Federal do Paraná, devido à presença do ex-aluno Deltan Dallagnol, é triste para a universidade, para o ambiente acadêmico e para o futuro dos alunos. Eles estão lá para aprender a ter espírito crítico e compreender múltiplas visões, não para virar reféns de doutrinação, seja de esquerda ou de direita.

A publicação do DCE da UFPR no Instagram é trágica. Mostra que o centro da lógica desses estudantes é autoritária. Também deixa no ar a dúvida sobre a capacidade de contrapor argumentos dos quais discordam.

AQUI FASCISTA NÃO TEM VEZ! A UFPR NÃO É O SEU LUGAR!

Ontem, após ficarmos sabendo que uma palestra organizada por um grupo de extrema-direita na nossa universidade contaria com a presença de Deltan Dallagnol, o DCE-UFPR movimentou e mobilizou o movimento estudantil organizado e todo o campo progressista da instituição para um ato contra a vinda do lavajatista.

Junto a organização do ato, a diretoria do DCE se manteve em contato com a administração da universidade, tentando encontrar uma maneira de junto da UFPR, barrar a realização dessa atividade E CONSEGUIMOS!

Após muita pressão do movimento estudantil, a direção do Setor de Ciências Jurídicas RETIROU A RESERVA DO AUDITÓRIO e IMPEDIU a realização do evento.

Essa é mais uma vitória do movimento estudantil e todo o campo progressista, democrático e popular da nossa instituição. Continuemos atentos! Aqueles que diariamente atacam as instituições públicas de ensino amam utilizá-las de palanque político para espalhamento do ódio.

Mais uma vez, mostramos que NA UFPR FASCISTA NÃO SE CRIA!

⭐ Gestão Sem Medo de Ser Feliz | DCE-UFPR 2023/2024”, diz a publicação no Instagram do DCE.

É trágico que estudantes de Direito comemorem quando evitam um confronto. Deveriam adquirir a capacidade de vencer confrontos de ideias, o que se torna impossível nessa lógica. Quem cursa Direito é treinado para uma série de carreiras jurídicas que incluem investigação, denúncia e defesa. Devem adquirir a capacidade e excelência em expor seu ponto de vista e, sob o amparo da lei, conseguir o melhor resultado para a causa que representam.

A precariedade do raciocínio lógico impressiona. Para estudantes de Direito, não é uma vitória evitar confrontos, a vitória é vencer o confronto. No caso, eles perderam. Evitaram a oportunidade de um debate que poderiam ganhar. O tom arrogante do texto contrasta com a implícita confissão de incapacidade para o mais básico da cátedra que escolheram, o confronto de ideias.

É possível compreender as razões pelas quais a publicação foi feita, todas giram em torno da sinalização de virtude em redes sociais, um ritual diário da seita woke. Eles carimbam alguém como fascista, sem nenhum nexo entre o termo e a realidade, e inviabilizam alguma atividade da pessoa. Essa prática é tão frequente e conhecida que nem rendeu os likes pretendidos. A maioria dos comentários condena o autoritarismo dos estudantes. Isso não anula o poder que esse tipo de postagem tem sobre a bolha à qual é dirigida, a que acredita em interditar qualquer tipo de discurso do qual discorde.

As justificativas técnicas dadas pela universidade para o cancelamento do evento não coincidem com o que foi dito pelo DCE. É, no entanto, uma justificativa conhecida, a do risco de tumulto. Estamos diante de um argumento cínico. A universidade não existe para proteger a multidão raivosa do discurso de um orador, mas para o oposto, proteger o orador da multidão raivosa.

Acontecimentos como este geram discursos contra a universidade como instituição e contra a UFPR em particular. É algo danoso a todos. Essa foi a universidade que formou Deltan Dallagnol e muitos outros que se opõem a ele. Em algum momento, o debate foi livre e a universidade foi capaz de formar para a área do Direito pessoas com diferentes visões de mundo. Isso precisa ser mantido, pela sobrevivência da própria universidade.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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