Outro dia uma seguidora me contou que não aguentava mais o genro no grupo da família. É uma mulher simples, evangélica fervorosa, por volta dos 60 anos. O marido da filha só mandava coisa de política. Não havia conversa com ele sobre nada. Era meme, notícia e convocações urgentes para postar e partilhar coisas. O dia todo assim. Ela já havia perdido a paciência, mas sabe que o genro é um bom homem.
Como tantos brasileiros, ele tem uma indignação justa de cidadão honesto. Entendeu que pagamos um preço altíssimo pelo nosso desinteresse na área política durante tantos anos. Com um filho a caminho, ele acredita que precisa lutar por um futuro melhor. Experiente, a sogra sabe que ele não vai melhorar nada caindo em papo de oportunista de internet. Compartilhar coisa que nem sabe se é verdade e xingar sem saber direito a razão levam a um país melhor? Não. Mas ele quer fazer algo.
Desejo que você, neste final de ano, tenha essa sabedoria. Que sua mesa seja farta e que o amor seja mais farto ainda. Que nada tenha a força de dividir sua família.
Minha seguidora queria muito que ele achasse algo para fazer fora do grupo da família. Que parasse de viver num universo paralelo em que ele está no centro das decisões políticas, tem essa responsabilidade e é devidamente recompensado por isso. Na verdade, ela não sabia o que fazer. Todos conhecem alguém que está nessa loucura em torno de temas políticos. Se você reclama, a pessoa cisma que você está defendendo o outro lado. É como se estivesse desmascarando você e criasse então um véu de desconfiança sobre sua moral e seu caráter.
Eu não sei o que teria feito, com toda sinceridade. Tenho a sorte de ter equacionado isso em família. Vivemos bem apesar das diferenças políticas entre alguns. Verdade seja dita, há gente na família que eu nem sei direito como se posiciona, temos uma ligação mais profunda e uma infinidade de outros temas a tratar.
Ouvi gente dizendo algo muito triste nesse Natal. Na minha família não tem briga de política porque eleitores de tal político não entram na minha casa.
Minha seguidora resolveu orar. Orou para que Deus lhe desse a palavra certa na hora certa. Pediu que adoçasse sua boca para que tocasse o coração do genro. Ela teve uma percepção que não sei se foi divina ou fruto da sabedoria de mãe e avó. Bom, isso também seria divino. E ela me ensinou algo em que eu não havia pensado. O problema dela, o que ela relatava, era do excesso de mensagens políticas vindas do genro. Mas isso era a febre, um sintoma, não a doença em si. Não era isso que a incomodava, era a falta do genro que ela conheceu.
Resolveu não confrontar a questão da política diretamente. Escreveu algo como “meu filho, sinto sua falta”. Lembrou que o neto estava para nascer, ela queria saber mais, estar mais perto. Não havia recebido prints do ultrassom, gostaria de participar. Disse que queria saber como ele se sentia, se queria apoio, tudo o que precisasse.
Ele não se tocou na hora. Respondeu mas continuou mandando as postagens políticas o dia todo. Ela insistiu, mandou orações, fez perguntas sinceras sobre família, sugeriu leituras bíblicas sobre paternidade. Pouco a pouco foram retomando o vínculo. O problema dela não era com a política, até gostava que a família se interessasse. O problema era com a falta de vínculo familiar.
Ouvi gente dizendo algo muito triste nesse Natal. Na minha família não tem briga de política porque eleitores de tal político não entram na minha casa. É o desmoronar dos valores familiares, dos afetos e dos vínculos. Tristemente, há quem ensaie alegações morais para justificar. Muita gente hoje só usa redes para atuar e debater política. As relações entre familiares e amigos se resumem a troca de notícias ou de memes. A união via internet é sempre para demolir alguém que não é puro politicamente o suficiente.
Imagine se fração dessa energia fosse usada para aprofundamento espiritual e um trabalho efetivo dos laços e valores familiares. Desejo que você, neste final de ano, tenha essa sabedoria. Que sua mesa seja farta e que o amor seja mais farto ainda. Que nada tenha a força de dividir sua família. Feliz Natal e Ano Novo e muito obrigada pela sua generosidade comigo durante este ano.
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