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Papeando com Martin Scorsese
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Quem acompanha o blog já deve ter notado que sou um daqueles fãs chatos e xiitas do Martin Scorsese, diretor responsável por algumas joias recentes do cinema americano, como Taxi Driver (1976), Touro Indomável (Raging Bull, 1980) e Os Bons Companheiros (Goodfellas, 1980).

Um dos primeiros filmes que assisti de Scorsese foi justamente Taxi Driver. Aí, aos poucos, comecei a me interessar mais e mais pela carreira do diretor e passei a garimpar os DVDs em lojas e sebos. Como só assistir aos filmes não parecia o bastante, também fui atrás de informações sobre a vida e preferências pessoais do Marty (apelido só para os íntimos).

Nesse processo de pesquisa, que prossegue até hoje, uma das obras mais bacanas e completas que encontrei foi o livro Conversas com Scorsese, escrito pelo crítico de cinema Richard Schickel. A obra nada mais é do que compilação de entrevistas feitas por Schickel com Scorsese, ao longo de vários anos.

Divulgação.
Conversas com Scorsese: biografia em forma de bate-papo entre entrevistador e entrevistado.

O livro foi lançado em 2011 em uma edição caprichadíssima da Cosac e Naify, com direito a capa dura, papel especial, fotos de bastidores e até storyboards desenhados por Scorsese quando ele ainda era criança em Little Italy, Nova York. Não espere, porém, entrevistas tradicionais, com perguntas fechadas e temas específicos. Schickel também é roteirista, diretor e produtor de documentários e, por isso, o que é apresentado ao longo das 520 páginas do livro é um extenso e cativante bate-papo, como se escutássemos dois velhos amigos falando sobre cinema em um bar, na mesa ao lado.

Facilita o fato de que as entrevistas são separadas em capítulos por temas e filmes – as conversas contemplam o período até o lançamento de Ilha do Medo (Shutter Island), em 2010. E claro que o leitor vai aproveitar muito mais a leitura se já conhecer as obras do diretor. Uma dica é assistir ao filme e, em seguida, ler o capítulo correspondente no livro. Com certeza surgirão novas nuances e observações que passaram despercebidas.

O preço, pra variar, é salgado. Está custando R$ 89 nas livrarias Saraiva, Curitiba e Cultura. Sou suspeito pra falar, mas vale cada centavo.

Abaixo trago algumas citações de Scorsese presentes no livro. Interessante que as entrevistas trazem à tona não só os bastidores da carreira de Scorsese e da produção de seus filmes, mas também relatam as dificuldades e contradições da indústria cinematográfica. E, apaixonado por cinema que é, Scorsese também aproveita para falar de seus gostos pessoais e sugerir uma série de filmes (antigos, principalmente) que merecem ser buscados e vistos pelo leitor/espectador.

Sobre a preparação para filmar Touro Indomável (Raging Bull, 1980)

Reprodução.
Edição caprichada traz fotos de bastidores e storyboards dos filmes dirigidos por Scorsese.

“Eu não sabia nada de boxe. Na televisão ou nos cinemas, quando mostravam as lutas no fim de semana, as lutas pareciam todas iguais. Eu não entendia que diabos estava acontecendo. Não entendia. Era um esporte, o que me deixava por fora”

Sobre a relação profissional e a amizade com o ator Robert De Niro

“Através de Bob eu consegui descobrir uma coisa a meu respeito – a diferença entre o diretor de gênero e o diretor que está tentando ser um cineasta. Trabalhamos isso de um jeito não expresso, nunca articulávamos a respeito. Falávamos de nossos sentimentos, de uma sensação de impotência, sobre a impossibilidade de mudar algumas coisas na vida, sobre confiança e o que acontece quando essa confiança é traída”

Sobre Os Bons Companheiros (Goodfellas, 1990)

“Pensei no filme como uma espécie de ataque ao público. Me lembro de estar falando do filme a certa altura e dizer: ‘Quero que as pessoas fiquem furiosas com ele’. Eu queria seduzir todo mundo para o filme e para o estilo. E depois afastar todos dele. Queria fazer algum tipo de gesto de raiva”

Sobre as dificuldades em terminar a filmagem de Gangues de Nova York (Gangs of New York, 2002)

“As pessoas iam embora, os objetos de cena eram levados embora. Ainda tínhamos de filmar algumas coisas e não tínhamos certeza se conseguiríamos com três pessoas apenas ou as que haviam sobrado. (…) O estúdio e os apoiadores tentaram me ajudar. Mas em certo ponto disseram que não tinham mais dinheiro. Foi quando eu pus o meu dinheiro no filme. E foi tudo gasto em poucos dias. Era uma obsessão para mim”

Ficha técnica

Conversas com Scorsese
Autor: Richard Schickel
Editora: Cosac Naify
N. de páginas: 520
Formato: 21,8 x 17cm
Lançamento: 2011 (primeira edição)

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