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Sessão HQ: os quadrinhos renegados de Marcas da Violência
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Apesar das histórias em quadrinhos de super-heróis monopolizarem as adaptações em Hollywood ultimamente, há algumas obras que fogem dos estereótipos de atores em colantes com super poderes e que podem ser mais realistas do que muitos roteiros originais que circulam por aí. Deste pequeno e seleto grupo, acredito que Marcas da Violência (A History of Violence, 2005) é um dos mais ilustres representantes.

Isto porque muita gente desconhece que o filme dirigido pelo canadense David Cronenberg e protagonizado por Viggo Mortensen é baseado em uma graphic novel, escrita por John Wagner e ilustrada por Vince Locke. O próprio Cronenberg reconheceu em entrevistas que, quando recebeu o roteiro adaptado e filmou a obra, não sabia que aquilo tudo havia partido das páginas de uma HQ. Mesmo na época de divulgação e lançamento do filme pouco foi falado a respeito. Os produtores, talvez, tenham ficado receosos em vender o filme como uma adaptação de histórias em quadrinhos – até porque a obra original é um tanto quanto underground (pra não dizer desconhecida mesmo).

A graphic novel foi publicada originalmente em 1997 pela DC Comics, por meio do selo Paradox Graphic Mystery – o mesmo selo pelo qual foi publicada outra série que virou um bom filme, Estrada para Perdição (Road to Perdition, 2002). Estrada para Perdição já foi publicada no Brasil (achei num sebo depois de garimbar muito), já A History of Violence, pelo que sei e pesquisei, nunca aportou por aqui.

Divulgação.
Página de A History of Violence: sangues e tiros em preto e branco.

Assim, a não ser que você recorra aos infames PDFs de quadrinhos disponíveis na internet, é difícil saber até que ponto a obra de John Wagner foi transposta de maneira literal para a telona. A premissa, de qualquer maneira, é a mesma: um pacato e simpático pai de família, que possui uma lanchonete numa cidadezinha americana, tem seu passado obscuro trazido à tona depois que mata dois assaltantes em seu estabelecimento.

A situação logo chama a atenção da mídia para Tom Stall (vivido por Viggo Mortensen) e também de outros criminosos vindos de Nova York. Para a surpresa da esposa de Tom (interpretada por Maria Bello), os mafiosos afirmam conhecê-lo de longa data, dizem que o nome dele na verdade é outro e possuem assuntos mal resolvidos.

Marcas da Violência é um filme mais sóbrio do que tantos outros de Cronenberg, um verdadeiro apaixonado por vísceras e tecnologia. Não por isso é menos violento. A violência aqui, inclusive, é mais realista, justamente por ser inesperada. A tensão não se constrói tanto nas poucas cenas de ação, mas sim no relacionamento cada vez mais dramático entre o casal protagonista – inclusive nas cenas de sexo. Até porque, apesar de ter certa experiência com armas, o protagonista não é um herói de ação. Não espere aqui tiroteios pirotécnicos ou atos de heroísmo. Fica claro que, mesmo sendo tratado como um bom moço pelos habitantes da cidadezinha, Tom está longe de ser um herói no sentido mais literal – e cinematográfico – da palavra.

Divulgação.
Viggo Mortensen vive o misterioso Tom Stall, homem com um passado que aparece para cobrar antigas contas.

Mesmo a resolução do conflito que ronda o outrora pacato Tom Stall é incompleta. Ele bate de frente com seus perseguidores, mas é óbvio que o maior embate será doméstico, com sua própria família. Será recebido de volta como pai e marido? Ou será relegado ao papel de um estranho, como aqueles mesmo criminosos que pouco antes ameaçavam a todos? Como retornar à rotina familiar depois de tantos corpos e sangue?

Devido ao final inconclusivo, o filme não responde à muitas destas perguntas. Cabe a nós, como espectadores, buscar no olhar dos filhos, da esposa e do próprio Tom as chances de uma retomada.

Marcas da Violência foi indicado a dois Oscar, por Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante, para William Hurt. O que é até surpreendente, visto que Hurt aparece apenas nos minutos finais do filme. Outro personagem icônico é o desfigurado criminoso vivido por Ed Harris, o autodeclarado algoz da família. Pra relembrar um pouco, segue o trailer:

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